O Lux encheu pelas costuras para receber aquela que é actualmente uma das bandas nacionais de topo. A nível de música cantada em português temos talvez aqui o maior sucesso dos últimos anos, acompanhado com uma evolução primorosa e de imensa qualidade. Falo claro está, dos Linda Martini.
Antes do concerto propriamente dito, as filas de entrada davam uma volta gigantesca, apresentando-nos um mar de gente ansiosa pelo regresso de uma das bandas mais acarinhadas pelo público português. Prova desse amor, foi a lotação mais que esgotada e inventada, a imensa salva de palmas presente em todas as músicas e os hinos musicais, tão decorados quanto um fanático religioso em amor pelo seu livro sagrado. Os Linda Martini são isso mesmo, um movimento amoroso reciproco entre fãs que teimam em aumentar, e uma banda pronta para os receber, através da simpatia e interacção daquele que é possivelmente na actualidade o melhor baterista português, Hélio Morais; e os também extremamente talentosos e simpáticos André Henriques (vocalista e guitarrista), Pedro Geraldes (guitarrista) e Cláudia Guerreiro (baixista). Juntos formam uma unidade musical sem igual, que ao vivo se transforma numa guerra espiritual, criando algo paralelo à nossa realidade. Sem me querer perder muito em metáforas ou analogias, o concerto de Linda Martini no Lux foi, resumidamente, uma entrada num outro universo, no universo da banda, que nos conseguiu transpor para algo perfeito a nível musical e emocional.
Para começar não podiam ter escolhido melhor, "Nós os outros", faixa integrante do álbum de apresentação deste concerto, "Casa Ocupada", encheu o espaço e aqueceu o público, com um Hélio furioso na bateria, cegamente electrizante, e os restantes membros a acompanharem-no em imensa sintonia. "Mulher-a-dias" é o 2º single deste álbum e foi também a segunda música tocada. Tanto foi o empenho da banda que quase que os víamos a correr tal como no videoclip. Energia do melhor ao vivo, fazendo-nos querer ficar nesta música por muito mais tempo do que o que ela dura! "Amigos mortais" foi a confirmação da excelência do novo álbum, e mais importante, que apesar do "rock mais directo", os Linda Martini continuam no caminho da qualidade, da enorme qualidade. A transição para músicas um pouco mais curtas e directas foi perfeita, e a sonoridade-mãe está cá toda presente. Para os fãs da banda as novas músicas sabem a uma continuação perfeita do que é uma evolução natural das coisas. Para os novos fãs, é uma oportunidade de conhecer o lado mais directo dos Linda Martini, podendo depois desenvolver-se uma imensa paixão.
Parar para olhar com calma a banda é uma acção que vale mesmo a pena. Hélio Morais "esmurraça a bateria" como se fosse o seu pior inimigo, numa energia vinda de outro lado do universo. Cláudia Guerreiro entra em êxtase em cada música e afigura-se como um elemento fulcral, de extrema ligação entre todos os membros da banda. Pedro Geraldes, elevando a sua guitarra no ar, alterna entre um ar mais calmo e a loucura do rock, e finalmente André Henriques canta-nos com alma, a sua, a da banda, de todos nós, cumprindo com distinção a sua tarefa na guitarra, e sorrindo ocasionalmente, como se estivesse a tocar no céu.
"Partir para ficar" foi a primeira "prenda" oferecida pela banda. E que bem que foi recebida! Hélio e Cláudia ( porta vozes da banda neste concerto) interagiam com o público entre cada tema, fazendo agradecimentos e atendendo ao bom humor. "Partir para ficar" foi uma prenda perfeita e o público respondeu com energia, quase tanta quanto a que a banda deixava em palco.
À quinta música chegamos à maior "surpresa" das novas músicas. "Elevador" é um conjunto de sentimentos electrizantes, dando ao público a sensação de que os Linda Martini cresceram imenso e conseguiram fazer o que é muito raro numa banda deste tipo, dar um salto perfeito entre os seus sons próprios (música underground), para algo mais "directo", algo que agrade a quem não conhece a banda. A transição foi perfeita e este "Elevador" expressa tudo num curto espaço de tempo. Entretanto, a banda dá tudo o que tem e mostra-nos porque é considerada uma das melhores da actualidade. Ninguém deixa tanto em palco quanto eles, ninguém canta com tanta alma, com tanto sentido, com tanta genuinidade.
"Amor combate" é um regresso às origens e à ligação com os fãs de sempre. Eles agradecem e retribuem, com muitas palmas, com coros, com saltos e empurrões. O público começa a ficar mais eléctrico.
"S de Jéssica" é um registo um pouco mais calmo, mas que tem todas as características da banda. O seu som é bastante reconhecível, e apesar do novo álbum ter faixas mais curtas do que é costume para a banda, está lá tudo.
"Juventude Sónica", em claro tributo aos "Sonic Youth", é o regresso ao bom rock, à criação de novos sons, de novas energias. A ligação com o público prende-se cada vez mais e é já notória a evolução da banda. "Ameaça menor" faz a ponte para aquela que é uma das melhores músicas da banda, "Cronófago". A loucura instala-se e o público aumenta a sua garra, interligando-se com o palco, com os músicos. "Este mar" origina um novo sentido de ligação, novo amor entre a banda e o público. "Queluz menos luz" é uma referência óbvia as origens da banda e é recebida com aplausos. A grandiosidade desta música leva-nos a que "Belarmino" alcance o apogeu. Estamos perante uma banda única, que aposta num som forte e cheio de energia, através do que cada elemento tem para dar, formando um todo coeso e tão talentoso. As novas músicas surgem como lufadas de ar fresco, como uma necessidade de continuidade por parte da banda e uma necessidade de continuidade pelos fãs. Sempre ao seu jeito, os quatro elementos vão cruzando emoções entre si, mostrando porque mandam em palco.
"Cem metros sereia" termina com um palco inundado de amigos da banda, a cantarem ao microfone. A emoção da letra, cruzada com as pessoas em palco torna o momento algo único e demasiado tocante. Os Linda Martini são isso mesmo, um ponto de união entre as pessoas e a criação de letras simples mas com um significado bastante profundo. Com as novas músicas assistimos a uma evolução que supera em tudo as expectativas. Com este álbum os Linda Martini vão certamente atingir um topo maior, se é que já não o conquistaram.
O encore foi representado por dois grandes êxitos da banda, duas músicas que fizeram a banda crescer e com que os fãs também cresceram nestes últimos anos. Seja a repetir as letras pela rua, em casa, no comboio, ou a ouvi-las no carro ou no ipod. Os Linda Martini deixaram a sua marca e "Dá-me a tua melhor faca" e "O amor é não haver polícia" demonstram o que tem sido criado ao longo destes últimos anos.
"Casa Ocupada" passa assim com enorme distinção ao vivo, sendo um álbum efectivamente de rock directo, mas cheio da alma da banda, tanto nas letras como na sonoridade. Este é um álbum poderoso e capaz de ombrear com os melhores álbuns da década.
A banda deu assim um espectáculo imenso, que não será esquecido por quem os viu. E a nível musical, Portugal pode sorrir novamente.
Antes do concerto propriamente dito, as filas de entrada davam uma volta gigantesca, apresentando-nos um mar de gente ansiosa pelo regresso de uma das bandas mais acarinhadas pelo público português. Prova desse amor, foi a lotação mais que esgotada e inventada, a imensa salva de palmas presente em todas as músicas e os hinos musicais, tão decorados quanto um fanático religioso em amor pelo seu livro sagrado. Os Linda Martini são isso mesmo, um movimento amoroso reciproco entre fãs que teimam em aumentar, e uma banda pronta para os receber, através da simpatia e interacção daquele que é possivelmente na actualidade o melhor baterista português, Hélio Morais; e os também extremamente talentosos e simpáticos André Henriques (vocalista e guitarrista), Pedro Geraldes (guitarrista) e Cláudia Guerreiro (baixista). Juntos formam uma unidade musical sem igual, que ao vivo se transforma numa guerra espiritual, criando algo paralelo à nossa realidade. Sem me querer perder muito em metáforas ou analogias, o concerto de Linda Martini no Lux foi, resumidamente, uma entrada num outro universo, no universo da banda, que nos conseguiu transpor para algo perfeito a nível musical e emocional.
Para começar não podiam ter escolhido melhor, "Nós os outros", faixa integrante do álbum de apresentação deste concerto, "Casa Ocupada", encheu o espaço e aqueceu o público, com um Hélio furioso na bateria, cegamente electrizante, e os restantes membros a acompanharem-no em imensa sintonia. "Mulher-a-dias" é o 2º single deste álbum e foi também a segunda música tocada. Tanto foi o empenho da banda que quase que os víamos a correr tal como no videoclip. Energia do melhor ao vivo, fazendo-nos querer ficar nesta música por muito mais tempo do que o que ela dura! "Amigos mortais" foi a confirmação da excelência do novo álbum, e mais importante, que apesar do "rock mais directo", os Linda Martini continuam no caminho da qualidade, da enorme qualidade. A transição para músicas um pouco mais curtas e directas foi perfeita, e a sonoridade-mãe está cá toda presente. Para os fãs da banda as novas músicas sabem a uma continuação perfeita do que é uma evolução natural das coisas. Para os novos fãs, é uma oportunidade de conhecer o lado mais directo dos Linda Martini, podendo depois desenvolver-se uma imensa paixão.
Parar para olhar com calma a banda é uma acção que vale mesmo a pena. Hélio Morais "esmurraça a bateria" como se fosse o seu pior inimigo, numa energia vinda de outro lado do universo. Cláudia Guerreiro entra em êxtase em cada música e afigura-se como um elemento fulcral, de extrema ligação entre todos os membros da banda. Pedro Geraldes, elevando a sua guitarra no ar, alterna entre um ar mais calmo e a loucura do rock, e finalmente André Henriques canta-nos com alma, a sua, a da banda, de todos nós, cumprindo com distinção a sua tarefa na guitarra, e sorrindo ocasionalmente, como se estivesse a tocar no céu.
"Partir para ficar" foi a primeira "prenda" oferecida pela banda. E que bem que foi recebida! Hélio e Cláudia ( porta vozes da banda neste concerto) interagiam com o público entre cada tema, fazendo agradecimentos e atendendo ao bom humor. "Partir para ficar" foi uma prenda perfeita e o público respondeu com energia, quase tanta quanto a que a banda deixava em palco.
À quinta música chegamos à maior "surpresa" das novas músicas. "Elevador" é um conjunto de sentimentos electrizantes, dando ao público a sensação de que os Linda Martini cresceram imenso e conseguiram fazer o que é muito raro numa banda deste tipo, dar um salto perfeito entre os seus sons próprios (música underground), para algo mais "directo", algo que agrade a quem não conhece a banda. A transição foi perfeita e este "Elevador" expressa tudo num curto espaço de tempo. Entretanto, a banda dá tudo o que tem e mostra-nos porque é considerada uma das melhores da actualidade. Ninguém deixa tanto em palco quanto eles, ninguém canta com tanta alma, com tanto sentido, com tanta genuinidade.
"Amor combate" é um regresso às origens e à ligação com os fãs de sempre. Eles agradecem e retribuem, com muitas palmas, com coros, com saltos e empurrões. O público começa a ficar mais eléctrico.
"S de Jéssica" é um registo um pouco mais calmo, mas que tem todas as características da banda. O seu som é bastante reconhecível, e apesar do novo álbum ter faixas mais curtas do que é costume para a banda, está lá tudo.
"Juventude Sónica", em claro tributo aos "Sonic Youth", é o regresso ao bom rock, à criação de novos sons, de novas energias. A ligação com o público prende-se cada vez mais e é já notória a evolução da banda. "Ameaça menor" faz a ponte para aquela que é uma das melhores músicas da banda, "Cronófago". A loucura instala-se e o público aumenta a sua garra, interligando-se com o palco, com os músicos. "Este mar" origina um novo sentido de ligação, novo amor entre a banda e o público. "Queluz menos luz" é uma referência óbvia as origens da banda e é recebida com aplausos. A grandiosidade desta música leva-nos a que "Belarmino" alcance o apogeu. Estamos perante uma banda única, que aposta num som forte e cheio de energia, através do que cada elemento tem para dar, formando um todo coeso e tão talentoso. As novas músicas surgem como lufadas de ar fresco, como uma necessidade de continuidade por parte da banda e uma necessidade de continuidade pelos fãs. Sempre ao seu jeito, os quatro elementos vão cruzando emoções entre si, mostrando porque mandam em palco.
"Cem metros sereia" termina com um palco inundado de amigos da banda, a cantarem ao microfone. A emoção da letra, cruzada com as pessoas em palco torna o momento algo único e demasiado tocante. Os Linda Martini são isso mesmo, um ponto de união entre as pessoas e a criação de letras simples mas com um significado bastante profundo. Com as novas músicas assistimos a uma evolução que supera em tudo as expectativas. Com este álbum os Linda Martini vão certamente atingir um topo maior, se é que já não o conquistaram.
O encore foi representado por dois grandes êxitos da banda, duas músicas que fizeram a banda crescer e com que os fãs também cresceram nestes últimos anos. Seja a repetir as letras pela rua, em casa, no comboio, ou a ouvi-las no carro ou no ipod. Os Linda Martini deixaram a sua marca e "Dá-me a tua melhor faca" e "O amor é não haver polícia" demonstram o que tem sido criado ao longo destes últimos anos.
"Casa Ocupada" passa assim com enorme distinção ao vivo, sendo um álbum efectivamente de rock directo, mas cheio da alma da banda, tanto nas letras como na sonoridade. Este é um álbum poderoso e capaz de ombrear com os melhores álbuns da década.
A banda deu assim um espectáculo imenso, que não será esquecido por quem os viu. E a nível musical, Portugal pode sorrir novamente.
Linda Martini @ Lux (29-10-2010)
Setlist:
1. Nós os outros
2. Mulher-a-dias
3. Amigos mortais
4. Partir para ficar
5. Elevador
6. Amor Combate
7. S de Jéssica
8. Juventude Sónica
9. Ameaça menor
10. Cronófago
11. Este mar
12. Queluz menos luz
13. Belarmino vs
14. Cem metros sereia
Encore
15. Dá-me a tua melhor faca
16. O amor é não haver policia
Texto: João Miguel Fernandes
Fotos: Hugo Rodrigues
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