domingo, 24 de outubro de 2010

Akira - Uma visão do futuro


Grande parte dos "animes" vive de metáforas ou criticas sociais implícitas. Akira, de Katsuhiro Otomo não é excepção.
Considerada por muitos como a melhor manga alguma vez feita, Akira é uma obra baseada em mil e uma ideias pós-apocalípticas, transpostas para uma realidade futurista próxima e iminente. Apesar de ser um aglomerado de ideias, consegue ser original na forma como relaciona os seus personagens e os desenvolve, de forma pouco pragmática e demasiado humana( ideia de que o ser humano é um ser mau por instinto).
Do ponto de vista cinematográfico poderíamos analisar este filme de diversos pontos de vista, tanto como uma obra que consegue criar um enorme enredo de entretenimento, enquanto nos transmite mensagens explicitas sobre um possível fim da sociedade actual dos países desenvolvidos ( caso do Japão). Poderíamos também elogiar a excelente banda sonora, que nos remete para ambientes opressivos e espirituais, ou a forma como o realizador capta a essência de cada plano, tendo especial atenção aos cortes lentos e demorados, para nos dar a sensação de realidade, e aproximar-nos mais do que poderá ser o nosso fim.
Contudo, não vou aprofundar o estudo cinematográfico desta obra prima, mas sim o seu estudo social.
Akira não é uma metáfora, é um filme com uma mensagem directa e conclusiva: A juventude está cada vez mais alienada da sociedade enquanto todo e enquanto máquina produtora de riqueza e de serviços. Através dessa alienação criam entre si pequenos grupos (gangs) onde se regem por regras criadas pelos mesmos. Dentro de uma sociedade global temos então estes grupos jovens que desafiam o todo, para viverem à margem da lei e sem que as forças superiores possam intervir nas suas vidas; Temos também uma crítica aos políticos e à sua forma de governação, demonstrando-nos que o ser humano é corrupto e facilmente eludido por questões financeiras ou de interesse muito próprio e pessoal, não atendendo aos problemas gerais da sociedade. Tendo em conta que os políticos regem a sociedade( supostamente), em Akira assistimos à corrupção no expoente máximo, e a políticos também alienados dos problemas sociais. Chegamos assim a um resultado: ineficiência do estado; O facto do sistema político de Akira ser um sistema militarizado não é apenas para criar soldados e cenas de acção para o filme, mas sim para dar a entender a forma de poder mais directa que o governo poderá ter, os soldados. Desta forma, através da violência directa, podemos calar as bocas que nos ofendem e destruir inimigos da nossa sociedade, sem atendermos à possibilidade de paz ou de equilíbrio social. O governo actua como um militar num campo de guerra, disparando primeiro e perguntando depois;
A ideia de uma Neo-Tokyo pretende alertar-nos para o problema das cidades massificadas e da sua evolução social. Com a globalização deixamos de ter uma identidade própria em cada cidade, e se surgirem conflitos sociais, o caos vai surgir em todos os pontos, porque não existe um padrão. Neo-Tokyo surge assim como uma cidade do futuro, do mundo e não do Japão, onde o governo actua de forma corrupta, ignorando os apelos dos habitantes e calando as manifestações através dos militares.
Akira é um dos filmes mais emblemáticos dos últimos anos, não por ser talvez o anime mais importante de sempre, mas sim porque nos apresenta um cenário "real" de um futuro bem próximo. Além do mais, durante todo o filme debate todos esses problemas sociais, de forma indirecta ( mas não metafórica), deixando-nos a apreciar todo o artwork, a fabulosa banda sonora e as cenas de acção e ficção patentes no género.
Uma obra prima intemporal, capaz de ultrapassar os seus antecessores pela simples razão de não inventar e ser capaz de nos mostrar os problemas e a solução para os mesmos.

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