sábado, 2 de outubro de 2010

Feromona no Clube Ferroviário


A feromona é uma substância química que despoleta certas reacções sociais em membros da mesma espécie. Capaz de alterar o comportamento dos indivíduos que estejam no mesmo espaço físico, a feromona pode ter um cariz de alarme, de procura de alimento ou mesmo sexual.

Mas, deixando a definição mais biológica e catedrática e incluindo Feromona num universo musical, resta dizer muito sucintamente que os Feromona são uma banda lisboeta que faz rock do puro. E é mesmo isso que eles fazem: um rock cantado em português que consegue cativar sem floreados ornamentais. Diego Armés, Bernardo Barata, Marco Armés e João Gil produzem um rock seco, romântico e às vezes cínico. Uma banda que não vive para famas ou reputações, mas sim para a música, como dá a entender o nome do segundo e último disco, Desoliúde. Bem melhor que a grande maioria das bandas rock nacionais, estes Feromona não são promovidos como merecem, no entanto, isso parece não estar nos objectivos da banda num futuro próximo, a diversão da música independente e underground ainda prevalece nestas bandas.



A noite de ontem foi de concerto. No bonito e calmo Clube Ferroviário, em Santa Apolónia, os Feromona começaram por apresentar em primeiríssima mão o videoclip de Selvagem Tosco e, logo depois, no andar de baixo, começavam os primeiros riffs de guitarra. Já com uma base de fãs bastante razoável, a pequena sala TGV estava recheada de gente que procurava passar um bom bocado e até muitas que entoavam as músicas de alma e coração. Film Noir, Animal, Selvagem Tosco e, claro, Psicologia foram os temas mais vibrantes como os bons hinos rock devem ser. Além destes temas, os Feromona deram-nos a oportunidade de viajar no Narita Express até Alfama, passando por Budapeste, tudo isto ao sabor de Vodka pura, ainda em tom revolucionário, tocaram Mánif com "o povo unido jamais será vencido" lá pelo meio.

O ambiente descontraído e em constante diálogo com o público buscava um feedback nem sempre instantâneo. A atmosfera simples e amistosa é sempre o prato forte nos concertos dos Feromona, este não foi excepção. A música fluía, as bocas e piadas entre público e banda também, as t-shirts dos músicos iam saindo, os cabelos iam-se soltando e, por entre um João Gil mais tímido e recatado e um Bernardo Barata a levantar um falsete por vezes desenquadrado mas divertido, o concerto foi aumentando de intensidade, acabando em êxtase e com o "encore mais presuasivo de sempre" como foi dito pelo vocalista Diego Armés depois do público quase não o ter deixado sair de palco.

Comparando a definição biológica e a definição musical de Feromona, talvez a biologia e a música não estejam assim tão afastadas: tal como a substância química, os Feromona conseguem alterar o comportamento dos indivíduos que estejam no mesmo espaço físico.


Fotos por Marta Lemos

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