quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Clare & The Reasons – The Movie



Clare & The Reasons é o nome dado à banda, estabelecida em Nova Iorque, a que Clare Muldaur Manchon e Olivier Manchon se dedicam desde 2005.

Filha de Geoff Muldaur, Clare seguiu exemplarmente os passos do pai na música; factor indispensável para ter criado, através dos Clare & The Reasons, um dos mais belos fenómenos da música alternativa.

É assim, pela voz de Clare Muldaur Manchon, que os Clare & The Reasons se expressam e nos oferecem dois álbuns absolutamente únicos – The Movie (2007) e Arrow (2009).

A parte instrumental, repleta de guitarras, violoncelos e teclas, é deixada principalmente ao cuidado de Olivier Manchon, marido de Clare, que juntamente com Bob Hart e Jon Cottle forma os restantes The Reasons.

O som surge impecável e funde-se, em todas as faixas, com a voz de Clare, de uma forma natural, íntima, praticamente perfeita.

O primeiro álbum – The Movie, foi lançado em 2007. Pluto, o single que difundiu o álbum e revelou a banda logo depois do lançamento da cover Everybody Wants To Rule The World (Tears For Fears), é o mais bonito exemplo do pop orquestral que marca este álbum. Leve e indescritivelmente harmonioso.

Subtilezas metafóricas como “Pluto, they say you can’t handle your own gravity” marcam este tema, onde podemos ouvir Clare Manchon, docemente desgostosa, a anunciar a Plutão a sua saída oficial e definitiva do sistema solar. The Movie conta ainda com uma versão alternativa desta faixa – Pluton, cantada em francês e dominada pelo irrepreensível som do piano.

É aliás, ao longo de todo este primeiro álbum que presenciamos uns Clare & The Reasons num registo docemente desgostoso, alcançando o difícil equilíbrio de combinar impecavelmente a melancolia com a paz de espírito. Através de faixas como Cook For You, Sugar In My Hair, Love Can Be a Crime, ou ainda Science Fiction Man, chega-nos uma Clare um tanto ingénua, contudo confiante. Uma Clare entregue aos sonhos, às expectativas, mas sempre com um discurso delicadamente irónico. Como alguém que quer acreditar, mas (já) não acredita.

The Movie remete-nos para uma sensibilidade própria, essencialmente para um equilíbrio de pensamentos, de palavras, de emoções e de sons. Quase como indie-pop nos anos 20, este álbum transporta-nos para a temática dos film noir, para a sensualidade dos anos 40 e mesmo para a aparente inocência dos anos 50. Passando a redundância, este seria de facto o álbum perfeito para funcionar como banda sonora de um filme vintage, ou podendo mesmo ele próprio chegar a ser traduzido para imagens, construindo certamente uma metragem tão singular como o próprio álbum.

Altamente aclamado pela crítica especializada, este disco, editado pela Frog Stand Records, conta ainda com colaborações de Van Dyke Parks e Sufjan Stevens.

Nostálgico acima de tudo, The Movie é o álbum perfeito para um final de tarde de Outono. Soa a romance antigo.

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