domingo, 2 de janeiro de 2011

Um olhar sobre a filmografia de Takeshi Kitano


Takeshi Kitano é um famoso realizador Japonês que pautou sempre a sua carreira pelo inesperado, improvável e eloquente.
O inicio da carreira de Kitano não é surpreendente. Depois da influência megalomona da saga "O Padrinho" no Japão, Kitano pega na temática da máfia japonesa, com a qual sempre se identificou, para criar alguns filmes violentos, mas bastante interessantes.
Temos que ter em conta que este homem começou como actor e comediante, que apresentava programas familiares. De repente, em 1989, Kitano decide voltar-se para a realização, e "Violent Cop" acaba por ser o seu primeiro filme. Kitano brinca à máfia enquanto nos apresenta um Japão sangrento, entregue nas mãos de criminosos. Kitano representa um mafioso, mudando completamente a sua imagem cómica.
"Boling Point" em 1990, não trouxe nada de novo ao realizador, senão apenas um experimentalismo técnico necessário para melhorar enquanto realizador. Não é que tenham sido maus filmes, mas são dois filmes ainda influenciados pelo cinema americano e pela própria vivência de Kitano, repleta de rebeldia. Aliás, se Kitano tivesse um comportamento um pouco mais moderado, talvez não tivesse sido expulso da escola de engenharia.
Em 1991 surge a primeira grande obra de Kitano. Um filme comovente sobre um rapaz surdo, que todos os dias ia surfar para a costa. Este é um filme simples, mas ao mesmo tempo tocante, demonstrando Kitano que é capaz de fazer dramas e manter a sua qualidade e as suas características especificas.
Em 1993 Kitano volta às origens e realiza de novo um filme violento sobre a máfia japonesa, sempre de uma perspectiva muito especifica e pessoal, o que acaba por lhe dar alguns toques de Kitano, sempre interessantes para os fãs. Os filmes de acção de Kitano não são meros filmes de violência e intriga, são também objectos complexos cheios de características do realizador.
Vou ter agora que saltar dois filmes do realizador, que não tive até à data oportunidade de ver.
Em 1997 inicia-se para um ciclo glorioso do realizador, em que todos os seus filmes são quase todos grandes obras primas. Hana-Bi é provavelmente o melhor filme do realizador, misturando uma narrativa complexa com emoções também elas complexas e uma das maiores caracteristicas dos filmes de Kitano, o amor. Mas em Kitano o amor não é simples, é trágico, sempre acompanhado de um mal maior, que nos pesa e que nos faz doer. Contudo, consegue sempre ser belo e é aqui que Kitano é o rei.
Em 1999 é nos apresentado um filme simples e comovente. Um drama que sem o ser originalmente acaba por ser na sua génese e na construção da historia ao longo do filme. Falo de O Verão de Kikujiro. Kitano volta a ser protagonista, como na quase totalidade dos seus filmes, e surpreende uma vez mais ao representar com uma criança que apenas quer uma coisa, encontrar a sua mãe.
Takeshi Kitano é um realizador que baseia os seus filmes em algo comum a qualquer pessoa, sustenta-o numa base simples, acrescentando depois uma trama dramática, empolgante e por vezes alucinante. Em alguns dos seus filmes coloca-nos pequenas metáforas que conseguem explicar todo o filme e muito mais que isso. Leva-nos a pensar e a querer saber mais.
Em 2000 Kitano regressa novamente às origens, realizando um filme sobre a máfia japonesa, Brother. Porém, Brother não consegue inovar e perde-se no meio da beleza cinematográfica do realizador. Após um magnifico Verão de Kikujiro, Brother fica no meio de duas obras primas, pois o filme que lhe sucede é o meu preferido do realizador.
É impossível explicar o que se passa em Dolls (2002) sem se ver o filme. Basicamente são três histórias de amor sem ligação que correram mal. Sem se aperceber, Kitano criou aqui um dos melhores filmes desta década, levando-nos a conhecer personagens incríveis e uma história de amor absurda e ao mesmo tempo encantadora. Dolls é a metáfora do amor, da desilusão e de como tudo isso leva à auto-destruição. Visualmente é o filme mais belo de Kitano.
Em 2003 temos Zatoichi, também um dos meus preferidos. Este filme de Samurais sobre um Samurai cego é uma prova do amadurecimento do realizador. O seu cinema ficou mais aguçado, mais perfeito. Kitano cria agora enredos complexos, capazes de ombrearem com qualquer mega produção americana.
Fico-me por aqui nesta análise cinematográfica, deixando um apelo a todos os leitores: Takeshi Kitano é hoje em dia um dos mais respeitados realizadores Japoneses. O seu cinema atravessa gerações e pontos de vista muito diferentes. Se o leitor gosta de violência e uma boa história, os filmes sobre a Yakuza são perfeitos para si. Se pelo contrário o leitor se relaciona mais com o típico cinema europeu, então é indispensável ver Dolls, O verão de Kikujiro, À beira mar e muito especialmente Hana Bi!

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