terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mamma Mia de Phyllida Lloyd, 2008


Há dívidas que nunca poderão ser saldadas e Phyllida Lloyd e toda a equipa de criativos estão em divida para com o mundo por nos terem trazido "Mamma Mia" sem qualquer sujeição a um linchamento sumário.

"Mamma Mia", como grande parte do género "musical", é claramente apontado a um público feminino, pelo que a visão de 50% da população, na qual me incluo, em relação às qualidades do filme pode estar deturpada por um imperativo cromossomático. Ainda assim não foi por isso que musicais ,desde o aclamado "Musica no Coração" até ao mais recente "Moulin Rouge", não pudessem ser desfrutados por todos.
Como se explica então que "Mamma Mia" seja tão mau?
Tentando não focar o preceito de que o filme foi conjurado nas mais profundas entranhas do inferno e coberto de purpurinas só para disfarçar e incidindo sobre os aspectos que fazem de um filme um bom filme tentemos analisar:

Sophie Sheridan (Amanda Seyfried) vive com a sua mãe, Donna Sheridan (Meryl Streep), numa ilha grega. Prestes a casar e sem nunca ter conhecido o pai envia convites a três homens que poderão ou não ser o progenitor desconhecido. Estes são Sam Carmichael (Pierce Brosnan), Bill Andersson (Stellan Skarsgård), Harry Bright (Colin Firth). Todos com diferentes proveniências, todos estimados nas recordações de Donna.
E se há coisa que anima um casamento é uma roleta russa parental, e o que é que pode correr mal? É obvio que as razões para se crescer sem saber quem é o pai são sempre coisas triviais como o ir buscar um maço de tabaco e enganar-se no caminho de volta, nunca seriam fortes cicatrizes emocionais ou algo do género. Surpreende-me que não haja mais gente a convidar potenciais pais para o casamento.
Mamma Mia se fosse uma paródia seria fantástico. Não é.

Mas mérito onde ele é devido, com o seu enredo "fantástico" consegue ainda enganar/convencer um bom elenco a dar-lhe vida. Teremos portanto uma "ensemble" de actores a esmiuçar o pouco que têm e arrancar a ferros uma boa performence. Infelizmente isto não passa de futil, falivel, pensamento positivo. Meryl Streep é tão convincente no seu papel de mulher trabalhadora independente e hippie reformada como a ideia dos Abba no Rock&Roll Hall Of Fame. Ainda assim ei-los.
Amanda Seyfried é a unica que parece minimamente compenetrada no seu papel, também ajuda saber cantar num papel que o exige o que não acontece com a maioria do restante elenco. Somente Pierce Brosnan se destaque pela positiva, porque claramente se esforça para cantar, infelizmente também se destaque pela negativa porque, imagine-se, se esforça para cantar o que só torna toda a experiencia uma dolorosa viagem pelo mundo dos sentidos, onde todos os caminhos tem estilhaços de vidro e o calçado é feito de arame farpado . Ou algo que doa mais.

De resto, Mamma Mia possui uma serie de cenas que mereciam nunca ter chegado ao final cut, a razão desculpável(?) para que tenham chegado é a de que 20 minutos de filme em que 10 são os créditos provavelmente não valeria o preço do bilhete. Temos de tudo, bailarinos que surgem do oceano em barbatanas e máscaras de mergulho que se lançam a todo o gás num frenesim de movimento , que se assemelha em tudo a uma dança de acasalamento, antes de desaparecerem novamente no oceano, à mais terna cena em que a personagem de Colin Firth depois de ter tido a epifania de que era o pai de Sophie e de lhe contar a descoberta prossegue a sua vidinha dançando, bebendo e "flirtando" com outras moças que têm - esperem pela punchline - idade para serem a sua filha.

No fim de contas o que salva, e salvou, Mamma Mia das profundezas do esquecimento, onde justamente merecia descansar num tormento agonizante, são as canções da banda sueca. Ou a canção, porque os mesmos 3 acordes por, muitas letras diferentes que lhe ponham em cima, só contam como uma canção. Os Abba, esses , vivem até aos dias de hoje com os dividendos que a musiquinha errada vendida ao publico certo lhes granjeou, reza a lenda que seria possivel cobrir a divida externa da Suécia, e Mamma Mia vai pelo mesmo caminho. Não há nada a ganhar dos 110 minutos de fita para além de dores de cabeça e uma vontade incontrolável de trautear "dont go wasting your emotion/lay all your love on me" durante dias a fio. Mamma Mia nunca valerá o tempo investido e cada vez que alguém o faz um panda bebé morre de pura infelicidade afogado nas lágrimas de unicórnios. Pesquisem que é verdade.




6 comentários:

  1. Quando vi o trailer do filme e vi/ouvi a Meryl Streep e o Pierce Brosnan a cantar fiquei em choque (no pior dos sentidos)e por isso neguei sempre cada oportunidade que me aparecia para ver o filme. Até que recentemente o filme passou na televisão e lá resolvi ver. É insuportável! Há cenas que são dolorosas de se ver... Pergunto-me como é que uma actriz como a Meryl Streep aceita uma coisa destas?

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  2. hahahahah! adorei esta review! Jorge fizeste-me rir tanto! E concordo com tudo o que disseste, que banhada de filme! Continua a escrever neste estilo! Muito bom!

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  3. MAMMA MIA = PIOR FILME DE SEMPRE!

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  4. Tu não estás bem a ver...mostrei este texto ao pessoal aqui da turma do Montijo e o pessoal ta todo a adorar, tudo a pedir para escrevermos a elogiar!

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  5. Obrigado pelos vossos comentários, tinha algum receio estar sozinho no que toca a minha opinião sobre o filme. Também fiz por evitar o filme mas quando foi exibido na televisão não consegui desviar o olhar, foi como ver um acidente em camera lenta.

    De resto, sempre que se justifique vou tentar escrever neste estilo, até porque é o que me surge naturalmente.

    Litos e turma do Montijo, desconheço quem são mas só posso imaginar que no que toca à vida vocês vencem.

    Obrigado, espalhem a palavra.

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  6. Confesso que nunca vi o filme. Assistir a actores conceituados e talentosos como Meryl Streep (Sophie's Choice) ou Pierce Brosnan (Goldeney e Matador) a protagonizarem cenas de romance barato acompanhadas do maior puke-pop de sempre (os ABBA) só pode resultar em algo confrangedor para alguém com gostos refinados (como eu). Contudo, e tal como tu assinalaste, não nos podemos esquecer de que o publico alvo desta ode ao cor-de-rosa são pessoas que não estão interessadas em sofrer com a dor do raciocínio, antes pelo contrário, querem divertir-se e dar umas gargalhadas à pala das cantorias de velhas glórias do cinema. De facto, aqui o ridículo desempenha uma função principal no que respeita ao humor: ver dois dinossauros da indústria a passarinharem e a desafinarem num filme com um conteúdo que pouco exige das nossas cabeças não deixa de ser surpreendente e até escandaloso e, por isso, risível. Talvez o mérito do filme esteja precisamente aqui. Filmes destes também são necessários para descomplicar. Verias o Mulholland Drive com a tua namorada numa sexta-feira à noite depois de uma semana intensa de trabalho? (puramente retórica esta questão)

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