segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

127 Hours de Danny Boyle, 2010


Danny Boyle tentou criar uma viagem épica pelos caminhos da sobrevivência humana extrema à maneira de "Into The Wild" de Sean Penn. Esqueceu-se porém do conteúdo.
Estamos perante uma tentativa de recriar o sofrimento humano no seu expoente máximo, numa situação catastrófica e sem qualquer solução à vista. Boyle explora a forma como o ser humano, neste caso Aron Ralston (James Franco), tentaria sobreviver de uma situação mortífera claustrofobica.
O erro de Boyle vem logo ao inicio. Sem qualquer apresentação do personagem, o filme começa com Aron a sair de casa e a preparar-se para ir fazer um passeio pelas montanhas. A camara acompanha todo este seu processo, dividindo o ecrã em três partes diferentes, uma técnica de realização cada vez mais usada mas que serve de pouco mais do que tentar fazer algo diferente sem que tenha um grande objectivo. Sem qualquer apresentação, o personagem segue então para as montanhas onde conhece duas desconhecidas. Aí serve de guia e diverte-se com as miúdas. Após breves minutos, o personagem fica novamente sozinho e caí num buraco, ficando com a mão presa numa rocha. Daí para a frente o filme só piora. Durante uma hora nada mais temos que o personagem a tentar libertar-se da rocha, a lembrar-se de cenas familiares que não têm qualquer nexo nas cenas em questão, visto que não nos dizem nada. Que sentimento pode provocar em nós ver o personagem principal, do qual não sabemos praticamente nada, a lembrar-se de momentos com uma suposta namorada, com os pais e com a irmã? É impossível sentir algo por estas cenas a não ser um grande aborrecimento. Mas Boyle tenta arriscar na realização e novamente os seus fast forwards e zooms são postos em prática, resultando numa chatice ainda maior.
Confesso que a alteração de cenas entre o personagem principal e os seus desejos, tais como de bebidas, aparecendo partes de anuncios a Fanta, são cenas bastante inteligentes, se tivermos um contrato de publicidade com as bebidas em questão. Claro que o fã acérrimo deste filme vai contradizer tudo isto e referir que estas cenas servem para demonstrar o despespero do personagem e a vontade humana pelas necessidades básicas. Pois...
É óbvio que um filme baseado em algo real tem que seguir certas regras de argumento, porém há várias formas de mostrar o mesmo significado.
A 20 minutos do fim somos presenteados com uma cena digna de um qualquer filme do Saw. Talvez a intenção do realizador tenha sido a de demonstrar a crueldade da situação, o desespero de um personagem que prefere cortar o próprio braço a ficar preso naquele local. Claro está que Danny Boyle teve que criar esta cena envolta num visual de violência pura e cruel, com o intuito de chocar. Tendo em conta que em todos os filmes de Boyle podemos ver várias cenas de choque, produzidas apenas para o efeito de criar sensações, podemos dizer claramente que de conteudo esta cena tem pouco. Violência grátis e sem qualquer conteúdo é igual a promoção barata. Sim, o sofrimento do persoangem é imenso e temos aqui um retrato bastante real do despeero humano. Mas isto é interessante? Não.
Um filme que tenta ser sensacionalista, nada mais. Boyle esqueceu-se de que para se fazer um filme é preciso fazer mais do que o óbvio, criar conteudo interessante e um argumento desafiante. É verdade que por vezes a simplicidade resulta, mas aqui não resulta absolutamente nada.
Melhor parte do filme? A música de Sigur Rós.
Danny Boyle só tem um grande filme até à data, chama-se 28 dias depois, e tudo o resto é palha.


4 comentários:

  1. Hahaha! ya, ya, who cares about Shallow Grave, Trainspotting, A Praia, Slumdog Milionaire?!

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  2. Bem, como o texto foi escrito por mim e é uma opinião pessoal, acho que tenho o direito a não achar os outros bons filmes. O trainspotting é um filme mediano, que aborda a questão das drogas de forma interessante. A praia é um filme detestavel, a par com slumdog milionaire, uma tentativa falhada de criar uma obra interessante. São opiniões e cada um tem a sua :)

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  3. Estou em crer que o Trainspotting é um filme muito longe de ser apenas mediano. Há um consenso no que toca a quão bom o filme é.
    A Praia é me igual ao litro, já vi umas quantas vezes e não consigo ir para lá do comentário adolescente do " a cena da tenda foi fixe", o pretenso retracto de uma pequena sociedade utopica que se desmorona sobre si mesma e sobre os seus vicios é manifestamente aborrecido para ficar na memória. Quanto a Slumdog, há que suspeitar da qualidade dum filme que mostra 300x a cena em que o nosso heroi grita o nome do interesse amoroso numa estação de comboio antes de algo mau acontecer.
    Estou a fazer um esforço imenso para me lembrar do enredo e a ideia com que na altura fiquei foi a de que slumdog é uma especie de documentario glorificado, disfarçado de ficcção cuja história se torna irrelevante face à tentativa de mostrar a vida na India, conseguida diga-se.

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  4. Jorginho, como sempre, concordamos. Só que eu consigo ver alguma beleza nA Praia por razoes pessoais. A cena da tenda não é de todo adolescente (a nao ser que te estejas a referir a alguma cena que me escapou). Gosto que mostrem como as pessoas se alheiam de tudo o que implica responsabilidade e mal-estar. E uma paz-hipócrita. E gosto disso. E gosto das regras deles.
    Slumdog é um filme "comercial", mas nao deixa de ser um épicozinho dentro do genero.

    João Miguel, este espaço é para comentários e foi o que fiz: comentei. E não foi irónicamente; ou antes: foi, mas só porque pensei realmente que estavas a gozar.

    Seja como for, ambos me conhecem: there's no reason to think I'm attacking anyone.
    Eu defendo muito a libertas bloguendi, ou seja: o blog como espaço de liberdade; autonomia super-privada. ;)*

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