quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Two Lovers de James Gray , 2008
Escrito, produzido e realizado por James Gray, com Joaquim Phoenix , Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw, Two Lovers conta-nos a história de Leonard (Phoenix) que a determinada altura tem sexo com Sandra (Shaw) e Michelle (Paltrow), em ocasiões separadas, mas está muito triste com isso.
Por muito redutora que possa parecer a descrição não é totalmente errónea, ao longo de todo o filme parece ser fulcral que o espectador entenda o quão triste e desafortunada é a personagem de Joaquim Phoenix por se encontrar neste triângulo amoroso e pela difícil escolha entre um amor apaixonante e arriscado e um mais comedido e confortável. A sensação com que ficamos é que há um esforço hercúleo para o melodramático. O pobre homem tenta matar-se assim que o filme começa, isto devia ser suficiente para se perceber que o que vem a seguir não são rebuçados e arco-íris.
Mas para que o leitor possa ter, pelo menos, o benefício da duvida antes de ver o filme faça-se uma breve descrição do que Two Lovers pretende ser.
Leonard é um jovem adulto, filho único de uma família judaica que vive em casa dos pais. As suas depressões resultam do fim de um relacionamento anterior que por motivos médicos fizeram com que a sua noiva o deixasse, uma incompatibilidade genética que os impedia de ter filhos saudáveis.
Envolto na sua própria depressão Leonard deixa de ter controlo sobre o rumo da sua vida e são os pais que tentam delinear o seu futuro por insuficiência do filho. Não só providenciam a Leonard uma vida confortável e sustento à frente do seu negocio familiar como no processo fazem com que Leonard e Sandra, também proveniente de uma família judaica, se aproximem e acabem por ter um envolvimento amoroso. Mais tarde conhece Michelle que vive no mesmo prédio num apartamento pago pelo amante, um homem casado para quem trabalha.
Eis que temos Leonard perante uma dualidade de interesses, optar por Sandra, que representa a vida confortável delineada pelos seus pais sobre a qual não tem controlo mas que ainda assim o protegerá dele próprio, ou Michelle uma vida mais apaixonante, inesperada e libertadora.
Perante este cenário o que poderia correr mal com Two Lovers? Enredo enfadonho? Representações menos bem conseguidas? Personagens irritantes com pouca profundidade?
Two Lovers nem sequer nos obriga a escolher um motivo em particular porque estão lá todos.
O filme tenta de alguma forma explorar a bipolaridade da personalidade de Leonard, contrapondo os momentos em que está com Sandra e Michelle, mas falha tremendamente muito por culpa da falta de protagonismo que é dada à personagem de Vinessa Shaw em detrimento da personagem de Gwyneth Paltrow. Fora o momento do primeiro encontro, enquanto está com Sandra não há qualquer desenvolvimento das personagens, Joaquim Phoenix poderia muito bem estar a representar um papel de um Forrest Gump mudo e taciturno que ninguém reparava e talvez fosse mais interessante. Infelizmente a dinâmica entre Leonard e Michelle também não resulta como se pretenderia o que não é de estranhar uma vez que tem por base uma relação que faria muito mais sentido num qualquer filme para adolescentes.
As personagens são manifestamente enfadonhas e a única que consegue criar alguma empatia é, por ironia, Sandra. Leonard é tão ridiculamente tristonho, sabe Deus porquê, que só consegue ser irritante e Michelle é a continuação na vida adulta de uma "prom queen" algo idiota e crédula.
Quanto aos actores Paltrow e Shaw conseguem, com pouco, ter prestações francamente boas, Joaquim Phoenix, por seu lado, tem os seus bons momentos mas na maior parte parece ter confundido representar com fingir paralisia facial.
Two Lovers é ,no fim de contas, um filme que não passa do banal e que deixa imenso a desejar. Se ao menos houvesse um outro filme que explorasse os dilemas de um homem dividido entre duas mulheres, uma que represente a comodidade de um certo modo de vida e outra a paixão e amor de luxuria. Se ao menos Woody Allen tivesse feito um filme assim em 2005 poderíamos ter algo com que comparar Two Lovers para nos apercebermos de todas as suas falhas e falta de originalidade.
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