domingo, 19 de setembro de 2010

Concerto de Os Pontos Negros e Corvos (dia 17) , Eléctricos e Deolinda ( dia 18) no Parque Central da Amadora


Em mês de celebração do 31º aniversario do município da Amadora os concertos ao ar livre voltaram ao Parque Central da Amadora este ano com a presença d' Os Pontos Negros e Corvos no dia 17 , Os Eléctricos e Deolinda no dia 18.

Sexta-feira coube pois aos Pontos Negros dar inicio às celebrações, subindo discretamente ao palco, sem que parte do público presente desse conta , lançaram-se de imediato ao tema homónimo do primeiro álbum, Magnifico Material Inútil de 2008, mostrando a energia e entusiasmo que pautaria todo o concerto. Pelo menos em cima do palco assim era, o público mais ou menos composto, esse estava reticente quanto à banda de Queluz e quando Jonatas apresenta finalmente a banda e pergunta " Sabem quem nós somos? Nós somos os Pontos Negros", olhando em volta percebe-se que alguns dos que lá estavam acabam de descobrir quem era a banda em palco. O cenário não era de estranhar, publico muito disperso, sentado na relva e só um pequeno aglomerado junto ao palco, o esperado para uma cidade com mais Mc's por cabeça do que qualquer outra no país.
Em palco, felizmente, a história era outra Os Pontos Negros não haviam de esmorecer e iam apresentando os novos temas do mais recente Pequeno Almoço Continental e valia-lhes a sensibilidade pop e habilidade para criar refrães orelhudos que rapidamente iam sendo decorados e entoados pelo publico mais participativo. Destaque para Lisboa, Não Passas Deste Inverno, Caminhos de Ferro e São Torpes Não é St. Tropez que pareciam ter conquistado o público quase de imediato. Os pontos alto no entanto vão para Contos de Fada De Sintra a Lisboa e Depois da Bonança Vem A Tempestade, do álbum de estreia, altura pela qual Jonatas, que esteve verdadeiramente endiabrado durante todo o concerto, enlouquecia por completo na guitarra.
A banda ainda tentou interagir com o público para aproximar aqueles mais afastados do palco mas por muito que se apele a naturalidades e se gabe a linha de Sintra há dias em que o publico não sabe dar valor ao que se passa em palco, sejam os fãs de música do gueto que não vêem para lá do hip-hop ou os nichos de góticos fundamentalistas.
O concerto termina sem direito a encore , que também não foi pedido, e infelizmente para os que realmente estavam a gostar de ter ali Os Pontos Negros fazia falta ouvir Armada de Pau e a Canção da Lili.

Com muito mais aparato e em tons mais sombrios começava o concerto de Corvos. O público aproximava-se mais da frente do palco e era notório o número de pessoas para lá dos 30 que entretanto tinha chegado para assistir ao concerto. Os cinco Corvos já estavam em palco em silêncio e a curiosidade para os ver e ouvir ia aumentando, abriram com um tema original e com um pequeno espectáculo de pirotecnia que apanhou os espectadores de surpresa. Apesar do que sugere o negrume das vestimentas e pinturas faciais já não é só na comunidade gótica que reside o publico de Corvos que desde o seu álbum de estreia em 1999 ,Corvos Visitam Xutos, tem vindo a crescer exponencialmente, em particular nos últimos anos e para um publico mais jovem - concertos com os D'zrt aparentemente podem ser uma coisa boa-, e quem está a assistir já sabe ao que vem e mal pode esperar para ouvir as suas musicas preferidas em versão clássica.
A segunda canção sossega os mais avídos por covers , Homem do Leme foi a primeira de quatro músicas de Xutos e Pontapés que se ouviriam ao longo da noite e a assistência torna-se de imediato em vocalista da banda que parece ter algures no código genético com as letras das canções embutidas. Felizmente houve também visitas a clássicos internacionais como Smells Like Teen Spirit dos Nirvana, Seven Nation Army dos White Stripes cujas letras se perderam e foram substituídas por um cântico de futebol, Enter Sandman e Unforgiven dos Metallica, entre outras.
Houve ainda tempo para devaneios clássicos em que os Corvos se mostravam mais descontraídos e iam, entre brincadeiras, disputando entre eles quem iria escolher a musica a tocar, e lugar para mais dos temas originais da banda dos quais se destacaram Streets of Lx. e Grávido de Ti, do ultimo álbum Medo, cujo refrão, ensinado ao publico antes de começarem a tocar, foi sendo repetido em uníssono.
Ao contrário d'Os Pontos Negros os Corvos tiveram que voltar por exigência popular para um encore. Apesar de terem terminado em grande com mais uma cover de Xutos, quando voltaram o que traziam era algo para, nas palavras do Tiago Flores, ficarmos no nosso mundo. Assim foi, Os Corvos saem de palco com o publico presente rendido e a querer mais. Para o ano talvez?


Dia 18 o cenário muda de aspecto. É noite de Deolinda e há uma enchente de pessoas para ver quem trouxe o fado às ondas Fm e lhe deu nova cara acrescentado um colorido pop às canções. Mas primeiro, os Eléctricos. 22h e já se encontram em palco perante um público muito mais entusiasta que o da noite anterior. É difícil definir o que se ouve, soa fado, soa pop mas soa também a country e blueszadas com jacarés e ,não fosse a inclinação do local do concerto, haveria muito mais gente a dançar ao som do banjo levados pelo entusiasmo na voz da Maria João Silva -Ana Bacalhau não está sozinha nesta noite de grandes vozes femininas. No final sai de palco e os membros da banda continuam em grande força e tocar o seu country muito blues com o publico a não deixar mal estes Eléctricos que foram para grande parte dos presentes, que nem sabiam quem eram, uma agradável e memorável surpresa.

Entretanto o palco ia sendo montado para receber os Deolinda e fora dele o público ia crescendo exponencialmente. Ainda as guitarras não estavam em palco e já se ouvia gritar pelo Fon Fon Fon. Havia de chegar.
Eram quase 23 horas quando os 4 Deolindos entraram em palco sob palmas e assobios e sem perder muito tempo deram ao mar de gente aquilo porque ali estavam. Do novo albúm, Dois Selos e Um Carimbo, e logo a abrir Um Contra O Outro que já está na ponta da língua dos fãs. Ana Bacalhau não pode ter muito mais que um metro e sessenta mas é incrível a sua habilidade para encher um palco e mobilizar multidões e é ainda uma excelente comunicadora contando as historias por detrás das canções e explicando a ligação dos Deolinda à Amadora onde 3 dos Deolindos já residiram.
Não há momentos altos a destacar deste concerto que não conheceu pontos baixos. Do princípio ao fim havia sempre quem soubesse as letras de cor mas se tivermos que escolher, as honras cabem a canções do álbum Canção ao Lado que desde 2008 parece nunca ter andado longe do top de vendas. Fado Toninho, Mal Por Mal e, em particular, Movimento Perpetuo Associativo fizeram as delícias de público e banda que viram aqueles que se encontravam no Parque Central da Amadora a entoar versos e refrães de cor.
Uma introdução suspeita fazia-se ouvir já na recta final do concerto, havia uma música que não podia faltar mas que estava estranhamente omissa. Entretanto a introdução assume contornos mais familiares e o publico vai ao rubro quando o Fon Fon Fon começa.
O concerto parece terminar mas ninguém arreda pé, em vez disso pede-se mais uma e títulos de canções são atirados para o ar. Os Deolinda cedem e voltam para um encore sentimental, a guitarra chora baixinho e começa o Clandestino, o momento que se segue é uma experiência quase religiosa e ouvir o lado mais frágil e sentimental dos Deolinda deveria constar na lista de "10 coisas a fazer antes de morrer" de qualquer um.
A música termina com a Ana sentada ao pé dos músicos e diz-nos que ganhámos, já se ouvia há algum tempo pedir Eu Tenho Um Melro e os Deolinda acediam ao pedido inesperado.
Para terminar numa nota alegre e porque já não havia muito mais reportório por onde escolher repete-se Um Contra O Outro e o público sabe que é a ultima vez que os Deolinda estão em palco e canta mais alto. Aliás até ao final do ano ver Deolinda em solo nacional não vai ser possível mas felizmente pudemos ter uma excelente despedida.

Já lá vai o tempo em que a Amadora era conhecida por ter concertos ao ar livre de bandas amadoras, em tempos que a maior parte dos seus habitantes nem sequer cá andava (nem eu), e assim à cabeça vem-me o nome de uma delas de seu nome Go Graal Blues Band. O nome não diz nada a maior parte de nós até se revelar que desta banda fazia parte um jovem Paulo Gonzo.


Fazem falta mais concertos com visibilidade a esta cidade, é triste que só de ano a ano haja eventos como este e que quando os há sejam para trazer muitas vezes os vultos pimba que já foram 3 mil vezes ao Portugal no Coração mostrar nada que valha a pena ouvir, é triste que se tenha deixado cair a juventude desta cidade num estado tão amorfo que nem quando concertos com grandes bandas estão a 5 minutos de distancia por preço zero se mobilizam para ir ver. Felizmente sexta e sábado foram a prova de que a situação pode ser revertida desde que haja empenho e querer tanto da autarquia como das pessoas, porque a Amadora não tem que ser o dormitório de Lisboa nem “a cidade onde fulano tal foi assaltado” quando pode ser muito mais.


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