quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Um olhar sobre o cinema de 2010

Arrisco a dizer que o ano de 2010 foi o ano mais pobre do cinema desde que acompanho seriamente cinema (últimos 10 anos). Se em anos passados tivemos "Lord of The Rings", "The Departed", "The Fountain", "The Prestige", "The Aviator", "Gran Torino" ou "Spirited Away", este ano ficamos pelo "Toy Story 3" ou "Inception" como as melhores ofertas, o que fica bem aquém das expectativas.
Sou um amante de cinema. Considero o cinema como a melhor arte e a mais fascinante. Mas não posso deixar de ficar triste pelo ano que passou.





Se considerarmos o "The Road" um filme de 2010(porque estreou em 2010 em Portugal, apesar de ser de 2009), então temos aqui de longe o melhor filme do ano. Um retracto único de um mundo pós-apocalitptico (o melhor do cinema na minha opinião), expresso na angústia dos dois personagens principais, pai e filho, que tentam desesperadamente sobreviver. Tentanto fugir de todos os dogmas comuns destes filmes, "The Road" explora a relação pai-filho de uma maneira algo diferente e consegue ao mesmo tempo recriar um cenário de interesse visual.

"Where the wild things are" é o filme que se segue( a nível de estreias, estreou cá em Janeiro). Apesar de ser uma boa tentativa criativa de forte ligação emocional, falha na última parte. É um filme interessante, que consegue criar sentimentos especiais por coisas realmente diferentes, mas fica-se muito por aqui. A recriação quase humana da alma dos "animais" retira-lhe toda a magia e a relação com o jovem protagonista fica-se pelas acções básicas que raramente levam a algum lado. É uma boa tentativa, mas apenas isso.

"Nine" é um filme que merece destaque porque apesar de ser do detestavel Rob Marshall, consegue criar interesse e ter sequências músicais muito bem feitas. Além disso, a história é interessante e bem construida e o personagem de Daniel Day-Lewis é incrivel. Um bom musical, no meio de tanta "tralha" musical que se tem feito nos últimos anos.

"Das Weisse Band"(O Laço Branco) é um filme tocante. Filme totalmente Europeu, com a realização pseudo-intelectual tipica da Europa central, mas sempre com um primor técnico e argumentista fascinante.

"Invictus" de Clint Eastwood é o seu filme menos conseguido dos últimos anos. Claro que é dificil ultrapassar as obras primas que tem realizado nos últimos tempos, mas Invictus fica mesmo a meio do caminho. Apesar de funcionar a nível de argumento, falha um pouco no desenvolvimento dos personagens, fazendo-nos sentir desconectados dos próprios personagens.

"A Serious Man" é um filme engraçado, mas não tanto. É capaz de nos provocar alguns risos e levar-nos a questões interessantes, mas por vezes aborrece-nos e prende-se demasiado à história tresloucada apresentada pelos não menos tresloucados Irmãos Coen.




"Shutter Island" é a par do "The Road" o melhor filme do ano, com muito de avanço. Esta visão fatalista e dura de uma realidade transfigurada é quase assustadora e chocante. Voltamos a encontrar um Leonardo Dicaprio fantástico, a demonstrar claramente que é o melhor actor dos últimos dez anos. Parabéns ao Martin Scorsese e ao Dicaprio, conseguiram novamente fazer uma obra-prima.

"Alice in Wonderland" é um desastre completo. Desde os actores completamente vazios e sem qualquer carácter, a uma realização menos conseguida por parte de Burton. Um filme que prometia bastante, mas que no final acabou por nos dar nada mais do que um mero blockbuster de pipoca, chato, chato, chato e sem qualquer personagem de interesse.

"Remember me" foi para mim uma surpresa. Inicialmente rotulado de filme romântico para mulheres entre os 12 e os 16 anos, mas que no final acabou por se um drama intenso e de reflexão interessante. Bons papéis, uma boa história, que acaba por não inventar muito, mas ao mesmo tempo inovar o estilo drama/romântico. Bem conseguido!

"How To Train Your Dragon" entra no meu top de piores filmes dos últimos anos. Incrivel como se consegue, a partir de uma boa história, criar um filme tão básico que nem é preciso cérebro para o vermos. Basta estarmos sentados e olhar, vermos os personagens estereotipados a reagir e a falar como quaisquer outros personagens de um qualquer outro filme. Ridiculo...

"The Imaginarum of Doctor Parnassus" foi outra completa desilusão. Não esperava que Terry Gilliam, o realizador que ja me trouxe um dos meus filmes preferidos (Brazil) fosse capaz de descer tão baixo. Quase pior que "Brothers Grimm", este Parnassus é uma tentativa criativa do realizador em voltar a lançar-se pelo comercial, mas que falha redondamente quando só temos palhaçada visual misturada com criatividade desmesurada.

"Clash of the titans" consegue ser interessante durante a sua duração e uma adaptção mediana ao seu antecessor. Claro que depois de o vermos esquecemos praticamente tudo, mas dentro do cinema comercial de acção, esta até é uma boa aposta.

"9" é um dos melhores filmes do ano. Uma animação original e interessante, que acaba por surpreender não pelos desenhos em si(que estão muito bem), mas sim pela história. O melhor filme de animação do ano a par de "Toy Story 3"

"Robin Hood", de Ridley Scott é mais um falhanço. Apesar de não ser um filme mau, é um filme que não consegue transmitir muito. Russel Crowe tem um papel interessante, mas não consegue impressionar. O argumento também não inova muito e prende-se demasiado ao conceito "Gladiator" e à fotografia de "Kingdom of Heaven", ficando claramente atrás destes dois.




"Toy Story 3" é o melhor dos três. A razão é simples: Consegue juntar tudo o que os outros têm e darnos ao longo de todo o filme duas visões distintas, a de uma criança, que vê o final com felicidade; e a de um adulto que acompanhou tudo desde o inicio e sente uma enorme tristeza ao ver aquele fim. Um filme incrivel que nos acompanhará para todo o sempre.

"Inception" é um bom exercicio mental de um filme que é bastante interessante, mas que não resulta em muito. Toda a envolvência pode parecer original, mas quem já viu o Existenz de David Cronenberg vai sentir muitos Dejá Vu's. Dicaprio tem um papel menos conseguido do que em Shutter Island, mas mesmo assim é interessante. Aliás, todo o filme é interessante, mas o resultado final não é nada por aí além.

"The Expendables" é o puro hino aos filmes de acção dos anos 80/90. Para quem cresceu sobre a égide destes filmes é uma alegria imensa ver no mesmo plano Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Está tudo neste filme, tudo o que caracterizou os actores da antiga geração dos "filmes de porrada". A juntar a esta nostalgia temos a oficialização dos novos actores da tareia, Jet Li e Jason Statham.

"Brothers" de Jim Sheridan, tinha tudo para ser um filme perfeito, mas falha no mais básico que é a história. Os personagens são incriveis e as representação insanas colocam-nas nas melhores deste ano, mas a forma como a história se processa é tão básica que retira toda a piada ao filme. É pena, mas Sheridan falhou no essencial, apesar de ter conseguido criar pontos bem positivos.
"Predators" é de longe o melhor filme de acção do ano. É um blockbuster brutal que homenageia de forma perfeita o Predador original. Tem cenas de acção muito bem filmadas, criadas num suspense imenso e bem medidas a nível de violência. Um exemplo de como deveriam ser os blockbuster de acção dos últimos anos, que agora teimam em tirar o sangue e a violência dos ecrãs, ou a pô-lo em quantidades absurdas.

"The Switch" é uma boa comédia, que sem ser demasiado original acaba por entreter. Tem tudo o que se poderia pedir, enganos, sexo e a Jennifer Aniston.

"Resident Evil:Afterlife" é outro enorme falhanço. Confesso que não acho os três primeiros muito maus, mas este último é uma ode aos filmes desinteressantes no qual não se passa absolutamente nada. Em tudo o filme cria-se a sensação de que algo vai acontecer, mas o final ultrapassa o ridiculo, sendo das coisas mais básicas que por aí se fez.

"Harry Potter and the Deathly Hollows" acaba também por entreter, sendo na minha opinião o melhor filme da saga. É um filme grande em duração mas nunca aborrece, e só por aí já ganha pontos, visto que estamos a falar de Harry Potter-adaptação desinteressante para o cinema.

E é nisto que se faz 2010, em filmes aquém das expectativas ou a roçar o fraco. Confesso que não vi alguns de peso, mas não me parece que seja o Social Network que me fará mudar de ideias quanto à qualidade deste ano.
Queremos mais Spielberg, Scorsese, Lynch, Miyazaki, Ridley Scott (com bons filmes outra vez, sff), Darren Aronofsky e Michael Mann, por favor...

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