Fazer-se cinco filmes e serem todos grandes obras de cinema não é para qualquer realizador. Basta compararmos esta filmografia com qualquer outro realizador e dificilmente encontramos casos de tamanho sucesso com os três primeiros filmes e sem quebra significativa nos seguintes. Pois bem, Aronofsky é esse realizador. Alguém capaz de à sua forma criar uma grande obra prima, seja um filme metafórico sobre a vida e a morte, seja um filme sobre as drogas e efeitos psicadélicos, ou até sobre um wrestler reformado e solitario. Darren Aronofsky é o novo génio do cinema dos últimos anos, e a derradeira prova vem no seu ultimo filme, o incrível Black Swan.
Black Swan, o novo filme de Aronofosky é uma obra de arte na sua totalidade. A história retrata uma rapariga, Nina(Natalie Portman), que vive com a sua mãe, uma ex-dançarina que não conseguiu atingir o sucesso. Nina trabalha para uma companhia de dança bastante importante, sendo uma bailarina profissional, sempre à espera de ser chamada para um grande papel. No meio de intrigas e conflitos internos consigo mesma, Nina é chamada para fazer o papel principal na nova peça da companhia, "Swan Lake".
Há vários factos curiosos neste filme e pormenores que revelam o génio criativo de Aronofsky. Tal como Kubrick, nenhum plano é deixado ao acaso. Há sempre um motivo, uma razão para naquele plano estar aquilo e não isto, para os adereços estarem daquela forma e não de outra. Cada plano reflecte-nos uma imagem pessoal da protagonista, criando-nos um ambiente claustrofóbico e intenso, vivido através de uma artista que só queria ser perfeita. Há outro dado curioso no filme, é que Nina aparece em todas as cenas. Não há uma única cena sem a protagonista, o que nos envolve ainda mais na personagem e torna tudo ainda mais claustrofóbico.
A relação de Nina com a mãe é sempre repleta de intensidade, visto que a mãe vive pela filha aquilo que não foi capaz de ser. Porém, um dos maiores acrescentos narrativos deste filme é o confronto de Nina com Lily (Mila Kunis). Uma é a pureza, a boa menina, a bem educada, formada. A outra representa os ideias de rebeldia, loucura, ultrapassar os limites. Neste confronto Nina perde-se consigo mesma e as ilusões tornam-se realidade, ou a realidade torna-se uma verdadeira ilusão, dependendo da forma como queremos interpretar o filme. A relação com Thomas (Vincent Cassel), o encenador e dono da companhia, é também bastante intensa, criada sempre na base do pormenor e do confronto sexual indirecto. Aliás, o filme brilha pelos pormenores. Raramente algo nos é dado directamente, a não ser que seja algo mesmo fulcral para o avanço narrativo. Este é um daqueles filmes a rever e rever, até lhe apanharmos todos os vícios possíveis.
Conforme a narrativa avança, a personagem de Nina vai-se adensando e tornando-se mais intensa. As fobias vão aumentando e as ilusões vão-se fundindo com a realidade, representando-nos cenas dignas de um qualquer filme de Kubrick. Aliás, é impossível não nos lembrarmos de "The Shining" nas cenas de maior violência psicológica.
Os últimos dez minutos do filme são arrebatadores e a cena final é de uma mestria tal que por si só já valeria todo o filme.
Black Swan é uma obra minuciosa, artística e cativante de um realizador que nos tem deixado de boca aberta. Natalie Portman tem, sem qualquer duvida, aqui o papel da sua carreira, demonstrando-nos uma Nina triste, solitária, ingénua e ao mesmo tempo sonhadora. Todos os outros personagens funcionam perfeitamente na narrativa, e a contribuição de Winona Ryder, como Beth, é incrivel.
Black Swan afigura-se assim como um filme intenso, negro, insano e uma das maiores obras do cinema dos últimos quinze anos.
Aronofsky conseguiu de novo. Temos cinema!
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