sábado, 18 de dezembro de 2010

Top de 2010, por Miguel Ferreira

É sempre ingrato fazer um top, acima de tudo porque é preciso deixar de fora coisas que mereciam lá estar. Depois, mesmo tendo feito isso, é-nos pedido que ordenemos as nossas escolhas, ainda que essa ordem não faça para nós grande sentido - neste caso, peço desculpa à equipa e aos leitores do Arte-Factos, mas tenho que abrir uma excepção: não vou numerar o top, porque a variedade das escolhas torna-as impossíveis de comparar. Por fim, (e para irmos ao que realmente interessa) este, como todos os outros, reflecte o gosto do seu autor, mas não pretende ser uma Bíblia do que aconteceu em 2010. Não é perfeito, mas é o meu top.



Saramago



Pela personalidade incómoda, pelo humor mordaz e pelo amor que também era capaz de mostrar (a prova está em "José e Pilar", o documentário de Miguel Gonçalves Mendes).




The National


Os fãs dos Arcade Fire que me desculpem, mas aqui são os The National a levar o prémio. High Violet é o seu terceiro álbum e é excelente. Pegando nas palavras do SputnikMusic, site que deu pontuação máxima ao disco, "The National should give faith to anyone (...) who misses a time where it didn't seem like all the musicians thought they were better than you and you could actually relate to the damn words they were singing.".





The Old Spice Guy

Se em Portugal "arriscar" continua a ser uma palavra quase proibida e jogar pelo seguro a atitude dominante, da América vem um exemplo que a contraria e mostra o que temos andado a perder. E não, não me refiro aos peitorais do senhor.




Festivais

(esta não leva imagem)

Para todos os gostos, por todo o país e com muita gente. Destaco o Optimus Alive! 2010 (pelo cartaz), o Super Bock Em Stock (pelo conceito) e o Bons Sons (por conseguir transformar, durante um fim-de-semana, uma aldeia pacata ao pé de Tomar no centro da música portuguesa). Nota ainda, noutro âmbito, para o Festival de Teatro de Almada, que comemorou o 27º aniversário.


Roberto Bolaño




A obra de Roberto Bolaño, que morreu em 2003, não teve mais destaque em 2010 do que no ano passado, por exemplo. Mas a edição d' O Terceiro Reich é um óptimo pretexto para prestar aqui a devida homenagem a este grande escritor.


Um Eléctrico Chamado Desejo, no Teatro Nacional Dona Maria II




A encenação de Diogo Infante não está aqui por ter sido a melhor peça que se viu em Portugal durante o ano que passou (não foi). Um Eléctrico Chamado Desejo ganhou o seu lugar no top porque simbolizou, de certa forma, a reconciliação entre o teatro nacional e o grande público - a peça teve sala cheia do primeiro ao último dia. Pode-se argumentar que isso foi feito à custa de chamar actores das telenovelas para o palco do Dona Maria. Sim, provavelmente foi o que aconteceu. Mas se o "povo" quer ver bons actores (como é o caso), ao menos que os veja na sala Garrett em vez de os ver na sala de estar, a olhar para a televisão.



Mistérios de Lisboa



Porque é uma pedrada no charco do cinema português e porque prova que vale a pena investir em grandes produções (como o é, aliás, o Filme Do Desassossego, que não consegui ver com muita pena minha). E também porque proporcionou alguns dos planos de cinema mais bonitos que se têm visto nas salas nos últimos anos - quem o viu lembrar-se-á certamente da morte do Conde.



B Fachada







2010 foi o ano da merecida consagração de B Fachada. Há Festa Na Moradia não é o seu melhor trabalho, mas tem grandes canções ("Joana Transmontana" ou "Memórias de Paco Forcado (vol.1)"). Já B Fachada É Pra Meninos, um disco para crianças que não o é, promete (não o ouvi ainda todo). De qualquer das formas, B Fachada afirmou-se como um grande e prolífico escritor de canções - já se fala de novo disco. E nós só temos que agradecer.


Kanye West






Ao quinto disco (a review vem em breve), Kanye West continua a sacar beats como quem muda de camisa. Sim, é arrogante. Sim, é egocêntrico. Sim, diz querer tornar-se o maior artista do seu tempo. Sim. É grande.

5 Anos de Casa da Música



Dizia-se n' Os Maias que Portugal é Lisboa, e o resto é paisagem. Já não é assim, e ainda bem. A Casa da Música celebrou 5 anos de uma actividade cultural intensa, abarcando diversas áreas, dando aos portuenses mais uma razão para se orgulharem da sua cidade. Eu, lisboeta, fico contente. Afinal, Lisboa é a capital, mas há muito mais Portugal.

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