No meio da semana, com uma noite nem muito fria e com uma crise política instalada não há nada melhor do que fugir à rotina e ir ouvir boa música num festival cheio de animação.
Na passada quarta feira, dia 23 de Março no cinema são Jorge estava a decorrer o festival Monstra. Dentro do programa do festival estava agendado Noiserv para a meia-noite. A sala do espectáculo era de tamanho médio para um público razoável e, apesar de existir poucos lugares, a sala tinha um ambiente acolhedor e pessoal. No palco, antes de algum som soar observava -se instrumentos como uma caixa de música, xilofones, guitarra, pianos, megafones, uma máquina fotográfica antiga, etc.
Noiserv entra, coloca a caixa de música a tocar e senta-se. Por detrás dele surge, num painel de fundo branco, desenhos que ao longo de toda a actuação vão se modificando pela mão de uma artista fascinante com o nome de Diana. David Santos começa a tocar e aí percebe-se o porquê de todos esses instrumentos. Ouve-se sons que fazem bater o pé ou apenas fechar os olhos e sentir; Uma voz calma com um timbre grave que nos atrai para a percepção do que se diz. Sonoridades como Mr. Carousel, B.I.F.O, Time, Attanagro, Where is my mind (original dos Pixies) ou The Sad story off a little town (tocada duas vezes) fizeram os espectadores entrar num ambiente "perplexo" em que cada música atingia a intimidade de cada um e fazendo com que viesse à memória recordações, experiências ou apenas sentimentos emotivos ligados à magia que o som transmitia. O próprio David Santos mostrava uma simplicidade e um humor tímido que fez o público sentir que se encontrava mais num núcleo de amigos do que num concerto. Percebe-se porque o Monstra integrou Noiserv na sua programação. As músicas reflectem um lado da animação cinematográfica que consiste na capacidade de nos levar a imaginar e criar o impossível nas nossas mentes. A sua participação numa das curtas-metragens presentes no festival faz todo o sentido pois é dos poucos músicos em que as suas músicas são adequadas para filmes de animação tão intimistas, imaginativos e reflectivos.
O projecto Noiserv de David Santos é sem dúvida uma das muitas provas que existe música em Portugal.
Fotografia: Sandra Ildefonso
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