sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Circa Survive - Blue Sky Noise



Blue Sky Noise
Circa Survive, 2010

Este Blue Sky Noise poderá muito bem ser um dos discos do ano, no que diz respeito a mim, será certamente, e é por isso que comecei esta crítica pelo seu final.

Mas vamos por partes. Os Circa Survive não são uma banda fácil, no sentido em que parece de opinião geral que ou se gosta muito, ou não se gosta nada, acredito que exista um meio-termo algures, mas não é normalmente muito visível, o que leva a que seja uma banda que tanto desperta amor, como ódio, e tudo o que se passa no intermédio é simplesmente esquecido ou engolido por estes dois extremos.

Uma das, ou talvez a maior razão para este facto, ou ponto de discórdia, será a voz de Anthony Green, vocalista da banda. O seu timbre de voz, quase sempre em falsete, torna-o inconfundível e quase único no que a capacidades vocais diz respeito. E vamos ser sinceros, muitas pessoas acham esta forma de cantar pouco apelativa, e irritante por vezes, o que os afasta imediatamente da banda.
Para quem gosta deste estilo de vocalizações e harmonias, não conhece a banda e não sabe o que esperar, pode muito bem ter uma surpresa com esta banda, e com este Blue Sky Noise em particular, não só o trabalho vocal de Anthony Green está melhor, como também toda a parte instrumental soa melhor, a produção é boa, e todos os instrumentos se fazem ouvir convenientemente. Em relação aos outros álbuns anteriores existe logo uma diferença que salta à vista, ou ao ouvido neste caso, a bateria de Steve Clifford tem um maior destaque durante todo o disco, e em boa altura diga-se, uma vez que torna toda a secção rítmica do álbum bastante forte, e acrescenta outro dinamismo às músicas, dinamismo esse que fez muita falta no predecessor On Letting Go, por exemplo. Mas nem só de percussão se faz este álbum, as guitarras de Colin Frangicetto e Brendan Ekstrom continuam a soar impecáveis, bem como o baixo de Nick Beard.

Outra particularidade que distingue este Blue Sky Noise dos álbuns anteriores da banda é o trabalho lírico. As letras de Anthony Green sempre foram muito pessoais, inspirado pela sua vida e o que o rodeia, Anthony impõe na sua escrita muita emoção e sentimento, que acaba por passar depois para a forma como canta e interpreta cada música, e isso faz-se sentir no ouvinte. Neste aspecto nada mudou para este álbum, o que mudou foi a forma como estas palavras nos são entregues, de uma forma muito mais directa, é-nos entregue um punhado de letras com que qualquer pessoa se pode identificar em uma ou outra ocasião da sua vida. Não sendo um ponto de viragem, é uma mudança que se faz sentir, principalmente em relação ao primeiro longa duração da banda, Juturna, que era mais complexo neste aspecto. Mantendo sempre a sua identidade, certamente que com isto a banda conseguirá angariar novos fãs, sem no entanto alienar aqueles que já tem.

A mudança para uma editora maior também não afectou a banda, se na Equal Visions Records estavam bem servidos, a verdade é que findo o contrato com dois álbuns e um EP na bagagem, a banda achou que a Atlantic Records seria a melhor opção para este lançamento. E é certo que por parte da editora foi também uma boa aposta, uma vez que os Circa Survive são uma das bandas rock emergentes nos EUA, e este terceiro álbum poderá muito bem ser o disco que os irá catapultar para outra categoria de reconhecimento entre o público.

Mas após tudo isto, o que se pode esperar afinal deste Blue Sky Noise? Para além de tudo o que já foi referido, há rock, há refrões e melodias que não saiem da cabeça, há faixas mais acústicas e ambiente, há sobretudo muito boa música, e um álbum que é coeso do princípio ao fim e que não aborrece passado duas ou três músicas, o resto, digam-me vocês.

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