Que Barcelos era a terra do Galo, das moelas e do rock, já muita gente o sabia, o que não se sabia talvez, é que pudesse albergar um evento como este Milhões de Festa. Idealizado por Joaquim Durães, mais conhecido por Fua, a Lovers & Lollypops montou em Barcelos um campo de festas, e as pessoas aderiram e corresponderam, já que foi exactamente isso que se passou por lá, milhões de festa.
Vou já dizer que tentar descrever por palavras o que se passou por Barcelos, é uma tarefa bastante ingrata, e nada do que eu possa dizer, vai ser o suficiente para descrever os dias 23, 24 e 25 de Julho.
Com um cartaz que não puxava às massas, mas bastante bom e consistente, este Milhões de Festa foi dividido em 3 palcos, a Piscina, o Palco Vice e o Palco Milhões, e era precisamente na piscina que a festa começava logo pela tarde, enquanto as pessoas se refrescavam, apanhavam sol ou apenas descansavam (o que começou a fazer sentido logo após o primeiro dia de festividades) a música fazia-se ouvir, e servia para descontrair antes de se seguir em romaria para os dois palcos montados no recinto um pouco mais acima das piscinas de Barcelos.
Romaria essa que continuava já mais ao final da tarde entre o palco Vice e o palco Milhões, uma vez que terminado um concerto num dos palcos, começava já no outro a banda seguinte, e nesse aspecto a organização não falhou, horários impecáveis, com praticamente tudo a começar a horas, o que levou a que nenhuma banda tocasse em simultâneo, permitindo deste modo às pessoas poderem ver todas as bandas presentes no cartaz.
Dia 23
Como já referi, era na piscina que se desenrolavam os primeiros concertos, e neste primeiro dia destacou-se o de Rudolfo, que com o seu hate beat pôs as pessoas em sentido, agressivo q.b. nas suas palavras, o público gostou do que viu, e isso reflectiu-se na banca de vendas do festival, em que muitas pessoas procuravam por merch. Após o concerto de Rudolfo, vieram os ritmos dançáveis dos Claiana, que apadrinharam a despedida de muita gente da piscina, eram horas de rumar aos outros palcos.
Foram poucas as pessoas presentes nos primeiros concertos do dia, talvez o facto de ser uma sexta feira levou a que a maior parte apenas chegasse mais pela noite, mas isso não impediu as bandas de darem tudo por tudo, e tentarem concentrar as pessoas que já se encontravam no recinto junto dos palcos, exemplo disso foi o concerto dos The Glockenwise, que animaram os presentes com o seu rock e a sua energia, aliás, foram os primeiros a dar o mote do contacto entre bandas e público, quando o seu vocalista saltou de uma das colunas à frente do palco para o meio do público, tava lançada a festa.
Quando começou Men Eater no palco Milhões, já o recinto se encontrava razoavelmente composto, e a banda não desapontou, para muitos era a oportunidade de verem pela primeira vez a banda com a formação renovada, e isso era também um dos pontos de interesse. Foi um concerto dentro do que os Men Eater já nos habituaram, sempre fortes, destaque para a participação de André Henriques na música Lisboa, e de Valient Himself dos Valient Thorr na música Man Hates Space.
E os Valient Thorr foram mesmo a banda que se seguiu no palco Milhões, com Valient Himself ao comando, o carismático vocalista foi bastante comunicativo com o público como é habitual, e os riffs de guitarra explosivos reinaram durante o concerto.
Coube aos britânicos Electric Wizard fecharem os concertos do palco Milhões, e não desapontaram aqueles que lá estavam para os ver, sempre competentes, a banda soube manter o interesse quando muitos já estavam esgotados do dia preenchido, que estava ainda longe de terminar.
No palco Vice, destaque para o concerto dos Black Bombaim, que deram o primeiro grande concerto do dia naquele palco. A banda de Barcelos tem um stoner rock poderosíssimo e deve ser uma das bandas a ter em conta no presente, e no futuro.
Dia 24
No dia em que os lendários The Fall se iam apresentar no Milhões, foi mais uma vez na piscina que as pessoas se prepararam para o acontecimento, o muito calor puxava a banhos e bebidas frescas, e os reis do palco da piscina foram os Feia Medronho, que tiveram a participação de Rudolfo e de um homem com um justo fato verde a dançar para ajudar à festa.
No palco Vice os Aspen brindaram-nos com um bom concerto, e de seguida houve Long Way To Alaska no palco Milhões, depois do pós-rock dos Aspen, nada melhor para o final de tarde que a música descontraída deste quarteto de Braga.
O palco Milhões deu ainda cartadas quando os PAUS entraram em cena para um dos grandes concertos do festival, animação, festa e uma secção rítmica poderosa são o que se pode esperar da banda, e nesta última parte, tiveram ainda uma ajuda, leia-se participação, de dois elementos dos Men Eater, Mike e Paulo Segadães.
Antes dos The Fall actuarem no palco Milhões, os ALTO! passaram pelo palco Vice e foram mais uma das boas surpresas da noite, rock 'n' roll directo ao ouvido, que cativa e faz mexer.
Após o concerto dos ALTO! era ver as pessoas a deslocarem-se em massa até ao palco Milhões, tinha chegado a hora dos The Fall actuarem e as expectativas estavam altas.
Mark E. Smith, mentor da banda, esteve igual a si próprio na sua atitude despreocupada em palco, mas nunca pareceu realmente que a banda estava ali, como um conjunto unido, sendo certo que Mark é o único membro original da banda, a ligação entre ele e o resto dos elementos pareceu muito desconexa, e a própria voz de Mark por vezes não se ouvia.
Com o passar do tempo, e quando já se adivinhava mais ou menos o fim do mesmo, Mark saiu do palco e deixou os coros encarregues à banda que o acompanhou, num final que foi abrupto e repentino, o que deixou muitas pessoas com opiniões divididas em relação ao concerto.
Quem não deixou dúvidas, e trouxe a festa para o recinto foram os El Guincho, que actuaram depois dos The Fall no palco Milhões. Esta banda espanhola pôs toda a gente a dançar com os seus ritmos contagiantes e trouxeram ao de cima toda a boa onda que se vivia no festival, o concerto terminou em apoteose com o comboio de pessoas a passar por entre o público que saltava e dançava freneticamente, as festas são feitas disto.
No palco Vice, os Crisis também puseram toda a gente a mexer, de uma forma diferente, mas igualmente libertadora, com a electrónica em pano de fundo, os gritos da vocalista Sofia ecoaram pelo recinto e fizeram as delicias de quem estava a acompanhar o concerto.
Dia 25
No último dia do festival, muita da festa fez-se na piscina, com aeróbica e coreografias dentro da mesma, ao som de bandas como os Sunflare, Tigre Deficiente e The Shine, sobretudo destes últimos que puseram toda a gente a dançar com o seu afro beat e kuduru.
Nos palcos Vice e Milhões a noite prometia, e não podia ter começado melhor, com Riding Pânico no palco Vice, após uma paragem algo prolongada, a banda voltou a reunir-se para um concerto que já deu para encher as medidas. Na bateria esteve Joaquim Albergaria a substituir o baterista BB e mais para o fim do concerto Hélio Morais e Paulo Segadães tiveram também uma participação no concerto.
Os Extraperlo foram talvez uma das bandas com menos público presente no concerto, com o elevado calor, as pessoas procuraram as sombras para ficarem e refrescarem um pouco, ainda assim o público presente em frente ao palco dançou, e protagonizou um comboio que deu a volta a parte do recinto na tentativa, algo vã, de juntar mais algumas pessoas na plateia.
Enquanto os Extraperlo davam o seu concerto, era já possível ouvir, vindo do outro palco, os berros do vocalista de The Ghost Of A Thousand no soundcheck, era pois os preparativos para o que vinha aí, sempre a puxarem pelo público, a banda fez questão de despejar decibeis com o seu rock/hardcore, e o próprio vocalista fez questão de se chegar mais perto do público, que o carregou nos braços pela área à frente do palco.
Este foi apenas um dos bons concertos que aconteceram no palco Vice neste dia, e que curiosamente (ou não), juntou por vezes mais pessoas que o palco Milhões. Bo Ningen foram os senhores que se seguiram neste palco, a banda japonesa, com todo estilo associado, espalharam o seu experimentalismo psicadélico e arrancaram um concerto de encher o olho.
Por esta altura, esperava-se já com alguma ansiedade o concerto de Monotonix, e se dúvidas houvesse, assim que se viu o material montado no meio do público, tava dada a receita para a verdadeira loucura, desde o primeiro segundo do concerto, até ao último, o público foi incansável no mosh, nos saltos, no crowd surfing, no headbang, e por aí fora, o exemplo era dado pela vocalista da banda, verdadeiro homem de festa e risco, que fez questão de puxar de uma série de acrobacias, é dificil explicar o que aconteceu naquele espaço de tempo, tudo o que aconteceu, o como se viveu, é quase surreal, a banda deslocava-se com os instrumentos entre o público, Ami Shalev, vocalista da banda, tocou bombo sentado num banco segurado unicamente pelo público e mais para o fim do concerto, já após a banda ter carregado os instrumentos por uma colina lateral ao palco, veio um dos momentos grandes do concerto, quando Ami desceu mais ou menos até meio da encosta e perguntou ao público se dali era uma altura segura para saltar, o público apoiou, concentrou-se à frente, e apanhou e carregou um destemido Ami de volta ao sítio onde a banda tinha começado a tocar inicialmente. Talvez os Monotonix sejam um sinónimo de rock, ou talvez sejam apenas loucos, num bom sentido, a verdade é que ninguém pode exigir mais de uma banda que deixa tudo, mas tudo 'em palco'.
Resumindo estes três dias de festival, e repetindo-me, muita festa, muito bom ambiente, muito bom sitio, muito boa organização e que para o ano haja mais.