segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Toy Story 3, de Lee Unkrich, 2010



Uma das coisas mais complicadas que existe no cinema é fazer-se uma trilogia em que os três filmes sejam igualmente bons. Temos o exemplo do Padrinho, do Star Wars ( ambas as trilogias) e de Jurassic Park. Em nenhuma dessas trilogias temos uma qualidade igual em todos os filmes. Nos últimos anos a excepcção é feita ao Senhor dos Anéis, mas são mesmo poucas as trilogias que conseguem ter três filmes bons.
Em Toy Story, de John Lasseter ( realizador dos dois primeiros e argumentista de todos eles) temos uma trilogia perfeita. É perfeita porque completa um circulo muito bem pensado e completamente esquematizado.
Toy Story 3 completa de forma perfeita esta trilogia. Não se trata de apenas mais um filme para vender, de uma tentativa de tentar revitalizar o cinema de animação americano só porque sim. Há um claro valor em fazer este filme, inerente a si próprio e que o transforma num símbolo.
Toy Story 3 tem duas visões completamente diferentes. De um lado temos a visão infantil, com a fuga dos bonecos do Day care Center, e a tentativa de regressarem ao seu dono de sempre, Andy, alguém como todos nós, ou de uma visão adulta, alguém como a nossa mãe ou o nosso amor.
A visão adulta é triste e sem floreados americanos estereotipados. Não há hipótese de um final totalmente feliz, e quem tiver vivido a sensação de em 1995 ter visto o primeiro filme no cinema, sentir-se-à totalmente devastado com o final. Para as crianças será um final feliz, para um qualquer semi-adulto será um final bastante triste, mas necessário.
Toy Story 3 desafia os filmes de animação americanos e mostra-nos que é capaz de fazer muito mais do que simplesmente agradar a miúdos e graúdos. Conseguir criar duas visões distintas dependendo da idade é algo não-americano, pelo menos no cinema de animação dos últimos anos. Hayao Miyazaki é perito neste tipo de cinema, talvez por isso a referência aos seus filmes com o aparecimento de Totoro em peluche no filme.
Neste 3º filme temos claramente várias metáforas incompreensíveis para uma banal criança, tanto a transfiguração de velhice, como da vida depois da morte. De uma visão adulta podemos observar este filme como uma viagem depois da vida, quando já estamos muito velhos e não temos para onde voltar. Os bonecos fazem esta viagem, e nós fazemos a viagem com eles. O final, esse, é o final correcto, aquele que todos ambicionados, termos a possibilidade de nos despedir da pessoa de quem mais gostamos, uma última vez, para sempre.
Toy Story 3 reinventa o cinema de animação americano e deixa o testemunho para alguém pegar. É um filme fantástico e que encerra uma trilogia imensa, cheia de significado e emoção.

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