quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Top 10 de 2010, por Jorge Almeida

Não gosto particularmente de tops. Fazê-los é-me complicado, a memória parece faltar-me sempre nestas ocasiões, e nunca tenho critérios concretos para me guiar. Portanto lá navego pela abstracção dos conceitos de melhor e pior para elaborar uma lista ordenada de forma qualitativa, cuja importância do primeiro e último item não passam de meros caprichos.

Mais difícil, então, é um top tão miscelâneo como este que, mal a mal, compara a relevância do que à partida não tem ponto de comparação. Mas como não é daqui que resulta nenhum mal ao mundo, vou tentar por em perspectiva - à falta de melhor, a minha - os acontecimentos de 2010.


10. Reuniões, reuniões, reuniões...


Ainda as primeiras badaladas de 2010 se faziam ouvir já os Soundgarden anunciavam o seu regresso. Os anos 90 parecem querer voltar e depois dos Faith No More e dos Stone Temple Pilots em anos anteriores 2010 foi o ano dos Soundgarden. Mas o ano ia só no inicio, Gavin Rossdale também daria uma segunda vida aos Bush e Scott Stapp reúne as tropas para trazer de volta os Creed. Também , para lá do mainstream, os pioneiros do indie e banda de culto, os Pavement voltaram ao activo assim como os A Perfect Circle. Ainda tivemos a sorte de recebermos as primeiras tours das bandas que já tinham anunciado o seu regresso no ano anterior -e nesta nota: obrigado Mike Patton.

O ano termina agora mas não sem mais um anúncio de uma reunião que deixou sorrisos na cara a meio mundo: System Of a Down.

9. The Lady Killer - Cee-lo Green
Graças a Deus por Cee-lo Green. Não só por ter feito um álbum fantástico que expande as barreiras do hip-hop, rock e r&b , mas também por ter dado ao mundo o maior hit de 2010. Se não estiverem convencidos da importância que teve "Fuck You", lembrem-se que logo no inicio do ano a canção que andava na cabeça de todos nós era outra. Estava em todas as rádios, em "n" anúncios de televisão e nos jogos da selecção Portuguesa. Lembrados?
Cee-lo Green é portanto o homem a agradecer por fazer de "I Got A Feeling" uma má memória colectiva que gostaríamos de apagar. Quase que merecia o primeiro lugar só por isso.

8. The Social Network
2010 não foi o melhor ano para o cinema, tivemos o Inception, Shutter Island, Toy Story 3 e mais meia-dúzia. Nos próximos Óscares pode ser que Leonardo DiCaprio receba a distinção de melhor actor que já merece e que Toy Story faça história e seja o primeiro filme de animação a ganhar na categoria de melhor filme. Apesar de mérito próprio, a acontecer, o factor decisivo é uma manifesta falta de competição. Mas divago.

The Social Network: antes de sair já se especulava que iria ser o filme do ano. Confirma-se. Não é o melhor filme, mas é o mais importante e aquele que mais dificilmente cairá no esquecimento.
O Facebook atingiu o auge da sua popularidade, 2010 assistiu a maior migração de sempre quando o pessoal do hi5 muda de barco, e The Social Network é emblemático dessa popularidade e o retracto da geração da Internet que marcou a década. Jesse Einseberg tem o desempenho de uma vida e não será de estranhar se roubar o Óscar a DiCaprio , o pobre coitado.
Sofre pela história, não é culpa de ninguém, às vezes a vida real não entretem como gostariamos, vale pelo factor "curiosidades", em relação a tudo o resto não se pede mais. Até o Justin Timberlake está genial.

7. Videojogos para todos
Não é bem uma coisa palpável, nem sequer é um acontecimento concreto ,é mais um fenómeno que vimos desenvolver mesmo à frente dos nossos olhos sem repararmos bem até já não o podermos ignorar. Os videojogos já são indiscutivelmente parte da cultura pop, os primeiros aficionados de décadas passadas são os adultos de agora que cresceram com uma consola em casa e talvez mais importante que isso o sector dos videojogos abriu-se a outros mercados e à criação dos títulos para o tipico jogador casual que nunca se reviu nos RPG e Shoot'em ups feitos para os fãs mais "hardcore".

Da ascensão da Wii à criação do move para a PS3, dos novos conceitos de videojogos que esbatem as barreiras entre os universos da musica ( Rockband, Guitar Hero) e do cinema ( Heavy Rain) aos jogos de concentração e fitness, 2010 foi o ano que fez de pais e avós "l33ts" e “geeks” das consolas.

6. Casa Ocupada - Linda Martini

Correm o sério risco de ser a banda a suceder aos Ornatos Violeta no que diz respeito às preferências do publico jovem que não vai à bola com a musica pop-pastilha-elástica. Há algo de tão introspectivo e intelectualmente desafiante sobre a sua música sem nunca chegar a ser pretensioso que atrai mais e mais fãs. 2010 é o ano que confirma o que já desconfiavamos: os Linda Martini já não são a banda que vive do underground, o público expandiu-se e a entrada directa no Top de vendas português mostrou-nos isso, felizmente a música mantêm-se.

5. 5 para a meia-noite

Surgiu em 2009 por isso é quase batota constar aqui mas 2010 foi a consolidação do que de melhor se fez em televisão. Os talk-shows neste registo "late night" não foram inventados ontem é verdade, mas arrisco-me a dizer que , com a ajuda dos talk-shows americanos emitidos na radical, o 5 para a meia-noite relançou o conceito em Portugal e criou público para os programas do género que se seguiram. Mais importante que contar umas piadas souberam os apresentadores como envolver o publico e de forma simbiótica os conteúdos foram sendo criados do lado de cá e de lá do ecrã. Tudo porque houve quem visse nas demais plataformas multimédia não uma forma de concorrência mas fortes aliados.
Espera-se o regresso à rtp2 o quanto antes.

4. Os U2 são a maior banda do Mundo

Raios os partam. Como é que eles conseguiram? O ultimo álbum é tão medíocre que o nome já nos escapa e , ainda assim, são a banda cuja tourné mais facturou. Portugal também recebeu a 360º e durante dois dias todos os caminhos iam dar a Coimbra.

Os irlandeses tornaram-se a maior banda do Mundo, ninguém deu por eles a tirarem o título aos Rolling Stones mas quando pensámos sobre isso a conclusão pareceu-nos óbvia. Os U2 revolucionaram a forma de dar concertos: Intimidade em grande escala. A fasquia foi elevada e não se vê forma de a alcançar nem quem seja capaz de lhes suceder.E daí talvez não porque temos...

3. Arcade Fire

Já começa a ser chato para nós, “críticos musicais” – vulgo, melómanos com vontade de partilhar -, dizer bem de uma única banda. Existem regras para cumprir, se uma banda tem um bom álbum de estreia automaticamente a critica ao segundo anda algures nas linhas do " não é tão fulgurante como o primeiro", e outras frases retiradas da gaveta. Mas não, os Arcade Fire lançam o Neon Bible e o mundo ajoelha-se perante a genialidade dos canadianos. Felizmente em 2010 chega-nos The Suburbs, três anos mais tarde iríamos ter a possibilidade de fazer uma critica a um álbum de Arcade Fire que não seja só de elogios. Uma banda não consegue fazer dos 3 primeiros álbuns os melhores dos respectivos anos ,segundo a crítica, pois não? Pois não?

Aparentemente podem. Os 60's tiveram os Beatles, os 70's os Led Zeppelin, os 80's não interessam, os 90's os Nirvana e os anos zero têm os Arcade Fire, tenho dito.

2. Há festa na Moradia - B Fachada
Por mérito próprio " Há Festa na Moradia" merecia um lugar em qualquer top, mas a razão porque surge neste é por ser sintomático da forma como o publico português passou a encarar a nova música portuguesa. Pessoalmente nunca fui adepto do apoiar o que é nosso só por ser nosso, acho uma atitude demasiado condescendente para os nossos artistas, ainda que sejam alguns deles que incentivam a isso, felizmente de há uns anos para cá a música portuguesa rejuvenesceu e encontrou na lingua do país e nas suas raízes mais tradicionais a força motora para se desenvolver e já ninguem precisa de gostar porque, coitadinha, é portuguesa mas porque é realmente boa .
Há Festa Na Moradia é o album que escolho para simbolizar esse renascimento , provavelmente pela intrínseca ligação com a Flor Caveira que muito nos tem dado na segunda metade desta década, mas felizmente há um leque cada vez mais variado de musicos que se inspiraram no que é tradicional e genéticamente nosso que se tornaram proeminentes ultimamente.

1. Lisbon - The Walkmen
Eu avisei logo no inicio que este top padece da minha noção do que é melhor e "Lisbon" é de longe o meu álbum favorito do ano.
Portugal parece estar na moda, do fado dos Deolinda e da Mariza até aos diversos artistas internacionais que têm feito elogios e declarações de amor ao nosso país, desde o ano de 1500 que nunca estivemos tanto nas bocas do mundo, somos como um pequeno tesouro das elites culturais que já não é tao secreto como isso.

Lisbon é uma declaração de amor à nossa capital, que aparentemente recompensou os Walkmen com inspiração que deu para 30 canções, 11 das quais encontraram o seu caminho até ao final-cut. Lisbon é melancólico e sentimental, são pequenas odes musicais tristes e emotivas que exorcizam a nossa solidão e deixam-nos um pouco mais esperançosos no final de cada audição.
Talvez seja eu a cair um pouco na bajulação mas faltam-me outras palavras para descrever este álbum. Lisbon é como a cidade que lhe dá nome num dia de chuva, há uma nostalgia sempre presente que entristece mas que nos leva ao conforto de outros tempos, bons tempos, diga-se.

É curioso que agora que voltámos a aprender a gostar de Portugal, também lá fora se aprendeu a mesma lição.

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