sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Top 10 de 2010, por André Vinagre

O final do ano aproxima-se a passos largos. 2010 passou num ápice, mas foi/está a ser um ano recheado de coisas boas. E, como o final de ano se aproxima a passos largos, esta é a altura ideal para fazer um pequeno percurso pelo mundo da cultura que nos passou à frente nestes últimos doze meses, uma retrospectiva mais ou menos pessoal de eventos, álbuns, filmes ou acontecimentos em geral que marcaram, de uma forma ou de outra, este 2010. Um top quase aleatório, em que faço figas para a minha memória a longo prazo não me traia e em que o carácter subjectivo é óbvio. Enfim, é só para relembrar o que de melhor se fez durante este ano.



10 -Estoril Film Festival

O jovem festival de cinema lisboeta (esta foi apenas a sua quarta edição) já faz parte dos mais respeitados a nível nacional e internacional. Este ano a aposta da organização foi grande, além da habitual competição de filmes que fez ir a ringue realizadores como Marc Fitoussi, Franco Maresco ou o português João Nicolau, conseguiu algo pouco visto: trouxe a Portugal uma lenda da música para falar sobre fotografia, Lou Reed. Romanticism é o nome da exposição que o padrinho do rock nos trouxe.

O Estoril Film Festival vale não só por Lou Reed, que este ano ajudou na divulgação do festival português com nome em inglês, mas também pelo seu todo. O crescimento exponencial que tem sido alvo não é por acaso.



9 - Há Festa na Moradia

Não fosse a farpela mal-amanhada e a barba descomprometida, B Fachada seria, decerto, considerado um galã das canções românticas de Portugal. Com este Há Festa na Moradia, B expõe-se a um nível que nunca tinha conhecido; para os seguidores é só a prova dos nove do talento deste jovem, para os menos atentos, este pode ser o veículo que os leve a apaixonar-se pelas canções simples e pelas letras tão bem engendradas que B Fachada consegue produzir.

Insisto, este revelou-se um dos melhores compositores portugueses e lançou este ano um dos melhores discos do ano.




8 - Inception


Leonardo DiCaprio contracena com Joseph Gordon-Levitt e Ellen Page num drama de acção muito rebuscado em que o esforço mental para entrar dentro do argumento é grande. O filme vale pela qualidade dos cenários, pelos efeitos visuais e pela ideia original quase brilhante.

O realizador é Christopher Nolan, o mesmo de Memento ou The Dark Knight. O efeito Nolan parece continuar a fazer efeito, uma vez que este foi um dos filmes com mais receita no cinema deste ano. A crítica, a par do público, parece ter ficado submissa.




7 - Super Bock em Stock

A Avenida da Liberdade viu poucas noites de tão grave desassossego como as noites de 3 e 4 de Dezembro. O Super Bock em Stock passou por ali e rondou o principal canal para a baixa lisboeta por duas noites consecutivas. Este inovador festival consegue ser o substituto perfeito aos festivais de verão, a chuva e o frio não derrubam ninguém, ainda para mais quando os concertos são feitos em sítios tão históricos e, ao mesmo tempo acolhedores, como o Tivoli, o cinema São Jorge, ou o Cabaret Maxime. Esta é apenas a terceira edição do Super Bock em Stock e já consegue trazer a Portugal as mais novas coqueluches da música independente ou alternativa. Este ano foi a vez de Owen Pallet, os Wavves, Janelle Monáe, Fujiya & Miyagi e Linda Martini, entre outros.

Um festival a não deixar passar.




6 - High Violet

Os The National já tinham deixado um aviso três anos antes, com o aclamado Boxer, e desta vez confirmaram a excelente banda que são. High Violet é o quinto álbum de originais da banda de Ohio e deixa transparecer um rock melancólico, simples, bonito e bem-vestido. Um manual de boas maneiras para ser sorvido com atenção. Quer seja nas letras românticas, melancólicas, de certa maneira, realistas, quer seja nas batidas compassadas da bateria ou nas teclas suaves como um inverno rigoroso. Matt Berninger canta como Leonard Cohen um regresso às origens, como em Bloodbuzz Ohio, canta amores desencontrados como em England e sussurra Sorrow em modo desgostoso.




5 - Diabo na Cruz

A formação de uma "super banda" é algo raro. E a formação de uma "super banda" que resulte bem é algo tão raro como o nascimento de um panda em cativeiro. Neste caso, o panda nasceu e está de boa saúde.

Jorge Cruz, Bernardo Barata, B Fachada, João Gil e João Pinheiro parece ser a combinação perfeita para uma nova música tradicional portuguesa. São eles que nos põe a dançar o vira sem que nós percebamos, são eles que nos fazem gostar outra vez da música mais arcaica outrora feita, são eles que nos fazem olhar para as nossas raízes e vê-las de outra maneira. As letras vão no mesmo sentido da melodia, padrões antigos ressuscitados de forma sublime.

Lançaram Virou! e já são poucas as pessoas que desconhecem a Dona Ligeirinha ou as que ainda não sabem que Os Loucos Estão Certos.




4 - Saramago

Este não é, de todo, um item positivo nesta lista de 2010. Saramago morreu e é inegável que este seja um acontecimento que marcou o ano.

A sua bibliografia é extensa, Saramago escreveu obras memoráveis como Memorial do Convento, A Jangada de Pedra ou Todos os Nomes, entre tantos outros. A criatividade deste génio da escrita era clara, a maneira concisa e pouco adjectivada com que contava histórias, a pouca pontuação que permite ao leitor uma leitura mais seguida e, consequentemente, uma maior envolvência na história eram características que saltavam à vista. E não é preciso um Prémio Nobel para o saber.

Além das capacidades incontestáveis, este era um homem amado e odiado, devido às suas convicções políticas e religiosas. A coragem em assumir as suas posições fê-lo ganhar amigos e inimigos.

Sem polémicas, Portugal perdeu, talvez, o maior romancista do mundo no séc. XX.




3 - Conan

Foi há cerca de nove meses que a NBC anunciou que Jay Leno voltaria ao The Tonight Show, que era, então, de Conan O'Brien. A polémica estalou e era claro que a tensão entre Conan e Jay se sentia no ar: afinal, Jay Leno roubou o programa a Conan O'Brien!

Conan aproveitou e tirou umas merecidas férias até a 8 de Novembro deste ano; Conan voltou ao pequeno ecrã, agora na TBS, com um programa com o seu nome. O seu regresso foi como pão para a boca dos fãs que não viam a hora do gigante americano de ascendência irlandesa regressar à televisão.

Agora na TBS, Conan está melhor que nunca, a barba discreta que deixou crescer parece torná-lo mais maduro, mas as piadas e o seu humor físico característico denunciam imediatamente uma alma de criança desejosa por fazer rir. E consegue.

Conan O'Brien é, hoje, o melhor e o mais engraçado talk show host da televisão.




2 - Casa Ocupada

O rock alternativo é algo que chegou há relativamente pouco tempo a Portugal, em 2003 surgiu uma banda chamada Linda Martini, o nome sugere tudo menos rock pesado, mas é aqui que começa o paradigma da banda lisboeta. Os Linda Martini são já um fenómeno no nicho do rock alternativo. O primeiro álbum, Olhos de Mongol, foi um sucesso (quem não conhece Amor Combate?), revelou-os e mostrou que as guitarras distorcidas e altas também têm lugar em Portugal. As parecenças aos Sonic Youth fazem-se notar, nem que seja só pelo facto do baixo estar entregue ao elemento feminino da banda.

Casa Ocupada preencheu imediatamente os tops de álbuns nacionais. As letras mais orelhudas e uma outra acuidade no ritmo são algumas das (poucas) diferenças para Olhos de Mongol.

Os Linda Martini já confirmaram o lugar de uma das melhores bandas nacionais.

Casa Ocupada, é o melhor álbum nacional do ano.




1 - The Suburbs

Dos subúbios vieram, para os subúrbios regressaram. Os Arcade Fire não conseguem desiludir, primeiro foi em Funeral que deixaram todos boquiabertos com tamanha beleza, depois Neon Bible deu ao mundo alguns dos temas mais apaixonantes dos últimos tempos, agora, com The Suburbs, as expectativas foram arrebatadas. A família de sete membros, centrada no casal Win Butler e Régine Chassagne, consegue produzir as mais belas canções de amor, as mais fortes canções de revolta, as mais tristes melancolias e a mais apertada das saudades. Win traz o rock, Régine traz o folk e os restantes põem a cereja no topo do bolo musical que eles são.

Neste The Suburbs, o regresso a casa da banda canadiana é tão notório como a desilusão de nada ser como dantes. Este disco é sobre isso, um regresso ao sítio onde crescemos e a constatação de que nada é como dantes. Indo direitos ao blues em Month of May, passando pelo rock mais convencional em Ready to Start, sempre em frente até à melodia pop cantada pela bondade em pessoa chamada Régine, em Sprawl II (Mountains Beyond Mountains), nada falha a estes Arcade Fire.

Para frustração de todos os adeptos de boa música, interpôs-se uma cimeira da NATO que inviabilizou o concerto dos Arcade Fire no Pavilhão Atlântico. Alheios a todas estas confusões entre promotoras e agentes de segurança estiveram os meninos do Quebec, que é bom começarem a pensar numa visita a Portugal.

Resumindo e concluindo: The Suburbs melhor disco do ano. Para ouvir e chorar por mais.

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